sábado, 22 de março de 2008

Poetisas,Sacerdotisas do verbo :Andreia Donadon e Clevane Pessoa)








Ilustrações:
Andreia Donadon Leal



25/08/2007 18h25
Anjos, poetas e crianças...


Na foto, o sorriso de Andréia Donadon.


Quando estive em Mariana, foi uma delícia manter contato com as crianças que estavam na I Exposição Aldravista Internacional de Arte, na Casa onde morou o simbolista extraodinário Alphonsus de Guimaraens, hoje onde funciona o Museu que leva seu nome.
As crianças, pré-adolescentes e adolescentes que ali estavam , interpretaram poemas dos aldravistas da cidade primaz de Minas.
Conheci ainda a professora Sãozinha,feliz com o resultados obtidos.

Ontem , recebi da artista plástica Deia Leal (pseudônimo de Andreia Donadon , a poeta Cônsul de Poetas del Mundo naquela cidade ), um pedido angelical:

""Ola Cle,

Tudo bem??? A professora Sãozinha fará em Setembro, exposição de textos (poema) na escola particular onde leciona. Farão trabalho sobre ANJOS. A equipe pedagógica solicitou meus anjos negros p/ o evento. Gostariam também de declamar poemas sobre ANJOS. Eu tenho três, Donadon 2, Gabriel um e Sebastião um. Gostaríamos muito de ter 02 poemas seus ou 3 se possível que fala sobre ANJOS.
Como os meninos da escola Dom Viçoso conhecem você, seria interessante os mesmos recitarem. Só que tem que ser com certa urgência.
Podemos contar com sua colaboração?

Abraços saudosos,
Andreia Donadon Leal"

Bem , a conexão com a Internet, estava sem estabilidade , na área onde resido, aqui em Belo Horizonte, então, eu lhe disse que enviaria hoje.
Fui nos arquivos do Recanto das Letras ("ESCRIVANINHA") e retirei dois poemas:"Discurso para anjos Esfarrapados" e "Muito Tarde".Possuo vários versos que mencionam as criaturas angelicais, mas muitos, não adeqüados à faixa etária dos alunos.

Possuo uma série à qual chamei de Haikanjos, alguns em antologias e mandei para o evento em setembro.Sei que vai ficar uma beleza,penso mesmo em, se pouder, aparecer para assistir.

Então enviei o que pude :
clevane pessoa de araújo lopes escreveu:
-

Andreia, atendo a seu ´pedido e para mim, é uma honra e uma alegria participar das atividades escolares da infãncia e da adolescência de Mariana, a cidade primaz de Minas.Até hoje , "vejo" e ouço as jovens vozes a declamar poesias aldravistas e a cercar-me, em busca de autógrafos (adorei estar aí, na Casa Alphonsus de Guimaraens).
Desculpe-me não haver enviado ontem mesmo, mas a área onde resido está com prloblemas na conexão com a Internet).


Seguem algumas já publicadas, mas vou fazer outras, menores, e enviar a seguir.
Vou fazer algumas especiais para a criançada da Sãozinha.
Abraços cordiais;>)
Clevane

N:Posso postar no blog as suas, enviadas há pouco?

Indagações essenciais

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Meu branco anjo negro,
você veio da aurora cor de sangue
ou da chuva incolor?
Meu negro anjo branco,
você sabia que todo sangue é vermelho,
que a alma não tem cor?...


haikai

asas a dançar
sobre a neve branca e leve,
anjos transparentes...
Clevane pessoa (da série, haikanjos)




Discurso para Anjos Esfarrapados

1:DISCURSO SOBRE ANJOS ESFARRAPADOS

(clevane pessoa de araújo lopes)

Se o anjo sujo de asas transparentes, invisíveis exceto
pelas omoplatas salientes , as costelas que apontam
e os ombros pontudos, pede uma esmola
ou vende algo no sinal de trânsito,
veja seus olhos afundados em olheiras!
Não baixe os olhos,
não finja que nada vê:
é uma criança, apenas,
esfarrapada e triste,
ave sem penas, de quem nossa pena
deveria acordar os donos do poder,
o DONO DO PODER,,,
Se há remelas, mau cheiro, palavras inoportunas,
pense na idade, nas condições
que marcam essa pessoazinha,
estranha e assustada,
num momento em que a maravilhosa infância
lhes é sonegada, a alegria de viver,
roubada,interroompida, sustada
a inocência para sempre maculada...
Os que vendem aqueles artigos baratos
colocando-os no retrovisor do carro,
onde estamos sossegados ou não
ou estendendo-os insistentemente
quantas vezes apanham duramente,
são seviciados, humilhados,
se não lograrem alcançar a cota
estipulada...
Escuros debaixo do sol!Suados,cansados!
Compre ou dê alguma coisa:
se você faz sua parte,
que importa o resto?
Se seus filhos estão protegidos no lar
ou na escola,se estão no colo dos avós,
aconchegados à mãe, aninhados contra o pai,
lembre
que a esses anjos sujinhos muitas vezes sequer
a palavra aconchego foi anexada
ao vocabulário hostil e seco
do deserto da miséria...
Veja:não se trata de pobreza digna,
de filhos ajudando com certa alegria e ânimos
pais necessitados,desempregados:
às vezes, a paternidade é falsa,
as crianças estão ali alugadas
(sabia que há anjos vendidos para a luxúria,
para a esperteza,
para os aproveitadores de sua condição precária?)
ou às vezes seus pais perderam
a noção de dignidade
(talvez também já tenham sido meninos de rua
institucionalizados,abandonados)...

Ah, faça a sua parte,a /PENAS.
Qualquer dia , um deles é atropelado ou assassinado
e aquelas asas que você não viu
se estenderão
para os vôos da liberdade...
Se isso acontece, é para comemorar.
Se você ajudou,enquanto eram prisioneiros
de grades que ninguém via,
amordaçados com panos imundos
e transparentes, algemados
por decretos não ouvidos,
saiba que agora é para ter alegria,
pois estarão livres dessa
barbárie:mesmo que você lamente
a negação da vida
aos meninos-anjos,
AGORA É QUE VIVEM...

N:Mas...e os que assaltam
nos sinais e ruas escuras,
os que cortam usando cacos de vidro
quando não têm estiletes ou giletes,
os que são ou trabalham para marginais?...
Amigo, essa é outra história,
que o bardo de coração arranhado e sangrante, falará depois...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Publicado originalmente no site "Boneca de trapo (de Cath Roos) e depois também Recanto das Letras em 09/04/2007,além de outros sites e blogs.
Código do texto: T443410

2:Muito Tarde:
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Muito tarde
Clevane Pessoa de Araújo Lopes



Como responder ao olhar faminto
do anjo sujo
que pede esmolas tão naturalmente ,
à menos-valia habituado?
Como não pensar no olhar de animal ferido
quando escorraçado,
qual se fosse cão sarnento,
portador de vírus letal?
Como conseguir dormir
depois de ver o anjinho esfarrapado
apanhar de algum adulto
que o escraviza ou ser torturado
por um menino maior
somente por não ter logrado
conseguir a esmola da pessoa
que nem o olhou ,ao ter passado?


Como não adivinhar as asas transparentes
nas omoplatas aparentes
das carnes magras e sujas?...

Às vezes, só depois de ter negado
uma ajuda necessária,
por medo, por negar-se a colaborar
com os aliciadores de menores
ou com pais desnaturados,
é que se pode compreender
que o Amor não foi exercitado,
pois devemos amar, 'apesar de' e não 'porque!'
A lágrima às vezes teima em molhar
o travesseiro de quem dorme
em lençóis de linho ou seda...
O olhar da criança nos persegue
o sono e um grito sem tamanho,
sufocado na garganta,
irrompe o espaço da madrugada...
Mas então, pode ser tarde:
o pequenino já foi surrado, seviciado ou maltratado
ou talvez tenha mesmo virado
um anjo de verdade
ao ser atropelado, assassinado...
E você não fez nada.
Nem eles...
Eu também não...

Poema hospedado no site www.bonecadetrapo.com.br.pela Poetisa Catherine Roos e publicado na Antologia Sonata Poética,Anomelivros, BH-MG em abril/2005
.
clevane pessoa de araújo lopes
Publicado originalmente no Recanto das Letras em 17/05/2005
Código do texto: T17577
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E, da Andréia , recebi, além de seu significativo poemas sobre anjos, os demais, que não posso deixar de publicar (com a devida licença da autora):

POESIAS: Andreia Donadon Leal





ANJOS


Anjos caem do céu
:
negros
brancos
pardos
amarelos
e
anunciam
:
no céu
na terra,
todos filhos de Deus!

Não sou Lagartixa
Disseram que sou esquisita,
isto sei desde menina...
De tão esquisita
não pareço
nem uma lagartixa.
Sou tão esquisita
que
lagartixa
é
mais bonita.
Talvez quiseram dizer
que sou feia
sem graça
sem jeito
e
esquisita.
Sou esquisita mesmo
e
não pareço lagartixa.

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Viver Eternamente


Se falasse a língua de deus
minha alma não se perderia
no lixo cósmico.
Quisera viver inutilmente
mais
e
mais
e
mais,
ainda exausto de viver.
Esta exaustão infinita
escrava
perpétua
viciada
:
viver
e
rastejar
meu corpo gelatinoso
pelas calles pedregosas,
mais
e
mais
ainda mais....
Meu corpo se decompondo,
esta decomposição lasciva
de pele desbotada
frisada de pregas
e
flácida idade.
Meu clamor será ironizado
esquartejado
:
viver mais
e
mais
e
ainda mais
e
ainda muito mais...
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Flor de Laranjeira



Não recolho
mato
erva
e
capim
no fundo do quintal.
Destroçaram
verde
cor-de-rosa
violeta
e
minha flor de laranjeira.
Meus olhos tristes
miram
as folhas secas
do mato
da erva
e
da flor de laranjeira.
Verde desbotou
cor-de-rosa desapareceu,
restou
:
sépia misturado
com vermelho ocre.
Só no fundo do quintal
um galhinho tímido
de flor de laranjeira
camuflado.

_______________________
O Fogo da Vaidade



Mortais!
Danados mortais.
Que rei sou eu?!
Impetuoso,
acumulado de ira intelectual
desacordado de realidade,
carne e bife tirado da unha
do cotovelo destroçado.
Que rei sou eu?!
Enviesado nas minhas ocres palavras
em meu castelo de paredes mofadas
enclausurado em versos fora de moda.
Que fogo intenso
feito brasa chapada
não queima,
dói
e
corrói lentamente
minhas entranhas
e ossos comidos de osteoporose
pelo calor da idade?
Minha clausura não me basta,
os out-doors da cidade
picham caras de santo;
não santos esculpidos
pelas mãos de Aleijadinho,
não santos pintados
nas naves das igrejas
pelas mãos de Athaíde.
Eu, na minha clausura
escondo meus defeitos
muerto e apagado
feito fumaça que levanta vôo
na brasa que queima
minha alma!
Que rei sou eu
que evapora junto
com as cinzas da morte?!

_________________________________
Portal do Céu



Voei sob a imensidão nebulosa do céu
em corredor veloz da pista curva.
Insegura garupa impossível da moto-avião
faz piloto em grand prix
ladeando a Serra do Caraça.
Parecia carregar-me para cantar com anjos
acordes finos em disco voador de ouro,
Jesus Cristo a reger nosso dueto
e o mundo inteiro de platéia.
Desci, enfim, em nave de cristal:
atordoada na cabine já despressurizada,
a deslizar na estrada apagada pela bruma...
Segui a velocidade do vento,
ao lado passam velozes rejeitos e quaresmeiras
no alto um sol teimando vencer a bruma.
De repente à minha frente
surge piloto veloz em competição:
sem retrovisor tomba o olhar para trás,
zune em ziguezague desafiador,
acelera à frente e torna a tombar o olhar,
à frente acelera rompendo a bruma
e a moto-avião some nas nuvens brancas
em adeus ao mundo daqui.
Minha nave pára rente ao paredão de pedra.
O piloto batedor ressurge e sorri...
Reconheço o portal do céu.

Zumbidos


Tela “La Cabalgata de los Zombies” de Antonio Gualda
http://gualda.galeon.com/id134.htm

Não há luz
na calada noite preta,
vozes não há...
Há sombras vagando
(câmera lenta)
s o l t a s
d e s p r e n d i d a s
insanas.
Zumbidos
zombam ouvidos,
mais fortes
ecoam
zumbidos zombando de mim.
http://www.jornalaldrava.com.br/pag_poesia_andreia.htm

Aproveitem e conheçam,no lindo site do Jornal Aldrava , mais de Andreia,muito mais em Letras e Artes no endereço acima)
Clevane




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Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 25/08/2007 às 18h