domingo, 2 de setembro de 2007



Impatiens..
Suados das brincadeiras ainda um tanto infantis,sentam-se nos degraus da casa velha de seus avós.Copo de Coca-cola na mão.Férias :os netos todos aparecem ali na fazenda dos avós.Ele, adolescente,ela púbere.Os demais primos ou muito mais velhos ou pirralhos.Ela veste uns shorts meio gastos, com os quais dormiu à noite.As pernas largas, o cós afrouxado, estampa miúda semi - desbotada.Senta-se com as coxas bem abertas:faz calor, o ponto de fricção entre elas está úmido.Riem por nada.Por tudo.Sabem que algo neles está diferente das férias do ano passado.Formam um par, não querem saber nem dos mais velhos, nem das crianças.
_Ontem, eu vi..._Viu o que, Paquita?
Implicação, o apelido, por causa dos shorts curtos e as pernas grossas, os cabelos lisos e louros.Também, num carnaval, vestiu-se de paquita,qual as ajudantes da Xuxa.._Na hora do filme, os dois lá se agarrando e seu negócio cresceu..._Que negócio?...Ah...A vermelhidão correu-lhe do pescoço para o rosto .Lembrava-se da ereção.Até colocara uma almofada de veludo vinho,apesar do calor, sobre o monte crescente.
_Paquita, paca,paquinha, e daí? Sou homem, neh?
_Que homem?Você ainda cheira a leite...
Ela ri.Ouvira a expressão da avó.Ele se enfurece.Avança para ela.Ela negaceia o corpo.O beijo súbito a deixa sem fôlego.Na boca.Igual aos filmes de teens.Abaixa os olhos,fica rubra,da cor da "impatiens" que floresce sob a grade da varanda.Morde os lábios tumefactos, que ardem porque ele quase lhe chupou a boca .Ele segura seu queixo e ela ergue os olhos.
Perguntam um ao outro se gostaram. Dizem que primos não podem/devem.Não ligam;o que sabem é que primos querem.Sim.E querem mais.Ele a empurra com cuidado parabaixo da escada, onde o jardineiro guarda as ferramentas.Ela não se incomoda.Bom ficar embaixo dele,que mordisca sua orelha,seu pescoço.Arrepiada.
Ele ri:
_Parece uma galinha.
Ela não o agride qual faria no ano passado.Apenas olha o braço com os pelinhos dourados brilhando ao sol.E concorda.
_Mas é bom...
Dezenas de beijos.Não ouvem quando a avó os chama para o almoço.Beijar é bom , bom demais...Ele, entumescido e ardente,curioso.Ela,úmida,impatiens, curiosa...
Clevane Pessoa de Araújo Lopes20/03/2007

Publicado também no Recanto das Letras em 20/03/2007

Outono...Fonte:http://www.jornalecos.net/poema5.htmJornal'Ecos da Literatura Lusófona 25 de Novembro de 2005 - Edição N°29


Poema de...... Clevane Pessoa Brasil Pág. 999


Outono: variações em torno de um tema


1)Apelo Veemente Na pele, no cheiro, num fio estendido no ar, entre seres, entre serras, o re/conhecimento da ternura antiga, do toque, do suor, do perfume, do banho, do enlevo amoroso... Quem terá iniciado o crochet finíssimo, o bordado latente, a trama entretecida no tear do Tempo? Quando tudo começou, em que Terra, em que espaços da eternidade o labirinto de estrelas se enroscou? Onde terá sido escrito o enredo do nosso Amor, que enredado em sua própria teia, acabou mal começou e começara tão intenso, parecendo uma continuidade de sonhos já vividos e acontecências já vividas? Castigo de carma? Por que não voltas e vens reescrever comigo, protagonistas enredados pelos pés, pelas mãos , pelas almas, essa historieta que podemos retransformar?... Vê: é outono e embora a Primavera tenha adormecido para voltar, ciclicamente, é na promessa do fruto que a flor freme, olorosa, a pressentir o milagre da Criação...


2) Lembranças e RENDAS-DE-BILRO


Hoje , sob a luz dourada do outono, dobro peças de enxoval... Tenho então a sensação de que vejo cenas adoráveis, bilros numa almofada levemente se entrechocam, sons pequenos de madeira: borlas... Bordadeiras a bordar rápidas, sem poder parar. pois urge a entrega da encomenda feita... Doem os olhos, as costas, os dedos, mas a paciência é infinda, herdada, mas também treinada... O desenho segue a cuidadosa trama... Depois, a renda de bilros, orgulhosa, enfeitará a camisola-do dia, a toalha do altar, a blusa da moça-velha, a gola da doce-avó... Exibida a todos os olhares, elogiada, a memória da renda terá saudades da artesã que pacientemente se desgastou para que fosse apresentada ao mundo... Em breve, o inverno, por isso guardo estas leves peças para uso no ano que vem... Eu própria, no outono da Vida, devo guardar relembrares das primeiras vezes em que minhas mãos pequenas, leves e lisas desdobraram cada uma e houve um momento em que a mancha olorosa da fruta, do fruto, marcou para sempre o fresco lençol de linho... Agora, minhas mãos outonais trazem pequenos sinais da idade mas ainda tremem, num "frisson" de alegria pela descoberta do prazer...Esses dois textos, foram publicados, em forma de versos, em antologia (Antologia de Outono), organizada por Arnaldo Ziraldo.Por algum mistério, chegaram ao jornal Ecos formatizados em prosa.Gosto de prosa poética, então, mantive ...Clevaneclevaneplopes@gmail.com

Outono


Outono: variações em torno de um tema



1)Apelo Veemente Na pele, no cheiro, num fio estendido no ar, entre seres, entre serras, o re/conhecimento da ternura antiga, do toque, do suor, do perfume, do banho, do enlevo amoroso... Quem terá iniciado o crochet finíssimo, o bordado latente, a trama entretecida no tear do Tempo? Quando tudo começou, em que Terra, em que espaços da eternidade o labirinto de estrelas se enroscou? Onde terá sido escrito o enredo do nosso Amor, que enredado em sua própria teia, acabou mal começou e começara tão intenso, parecendo uma continuidade de sonhos já vividos e acontecências já vividas? Castigo de carma? Por que não voltas e vens reescrever comigo, protagonistas enredados pelos pés, pelas mãos , pelas almas, essa historieta que podemos retransformar?... Vê: é outono e embora a Primavera tenha adormecido para voltar, ciclicamente, é na promessa do fruto que a flor freme, olorosa, a pressentir o milagre da Criação...



2) Lembranças e RENDAS-DE-BILRO Hoje , sob a luz dourada do outono, dobro peças de enxoval... Tenho então a sensação de que vejo cenas adoráveis, bilros numa almofada levemente se entrechocam, sons pequenos de madeira: borlas... Bordadeiras a bordar rápidas, sem poder parar. pois urge a entrega da encomenda feita... Doem os olhos, as costas, os dedos, mas a paciência é infinda, herdada, mas também treinada... O desenho segue a cuidadosa trama... Depois, a renda de bilros, orgulhosa, enfeitará a camisola-do dia, a toalha do altar, a blusa da moça-velha, a gola da doce-avó... Exibida a todos os olhares, elogiada, a memória da renda terá saudades da artesã que pacientemente se desgastou para que fosse apresentada ao mundo... Em breve, o inverno, por isso guardo estas leves peças para uso no ano que vem... Eu própria, no outono da Vida, devo guardar relembrares das primeiras vezes em que minhas mãos pequenas, leves e lisas desdobraram cada uma e houve um momento em que a mancha olorosa da fruta, do fruto, marcou para sempre o fresco lençol de linho... Agora, minhas mãos outonais trazem pequenos sinais da idade mas ainda tremem, num "frisson" de alegria pela descoberta do prazer...



Esses dois textos, foram publicados, em forma de versos, em antologia (Antologia de Outono), organizada por Arnaldo Ziraldo.Por algum mistério, chegaram ao jornal Ecos formatizados em prosa.Gosto de prosa poética, então, mantive ...Clevane


Imagem:sobre foto de Alex (estou no no evento "Poesia Abraça a Música,organizado por Dayanne Timóteo, Poetisa e promotora de Culturano teatro Chico Nunes, em belo Horizonte, MG) a arte de Fernando Barbosa, do "Espaço Cultural Casa do Fernando", autor/ator teatral e fotógrafo.





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