quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SER SENSÍVEL



Imagem;coração cybernético

SER SENSÍVEL – Alain de Paula (Boston,USA)com Clevane Pessoa(Belo Horizonte,Brasil)



ser sensível é tocar o céu
perder a noção das vezes
velejar em mares de papel
e degustar o mel dos deuses



é abrir as asas de luz
ouvir a música dos anjos
solfejar-lhes cançôes sedutoras
de crianças a adultos, a arcanjos



é imaginar o desconhecido
na rotina dos sentimentos
e conceber claridade
à realidade dos momentos



é iluminar a noite com pirilampos
ver pétalas em asas das borboletas
colorir a extensão dos campos
renovar estradas obsoletas



é deixar marcas no tempo
despedir-se dos limites
e ao comer a maçã, criar coragem
para diluir-se junto ao amanhã



é entregar-se às sutis delícias
e nos toques humanos e divinos
fazer a colheita das primícias
tornar belos, meninos e meninas

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Fruto proibido





O FRUTO PROIBIDO

Lisieux


Maçã me lembra o fruto proibido
que todos dizem ter Eva comido...

Mas sabes?

Eu cá tenho para mim
que o fruto do jardim
era u'a manga-rosa,

cheirosa, suculenta,
colorida e saborosa...
nela cravamos os dentes,
o suco escorre
nos lambuzamos...
rimos contentes,
limpamos com a mão,
os lábios lambemos...
Carnuda e doce,
sensual...
fruto tropical,
cheiroso,
que nos convida ao pecado
mais gostoso...





VAMOS PECAR


Lara Cardoso



eu diria, melhor trepar
subida em loucura
risos e gemidos
para uma fruta alcançar
sem medo e censura
esqueça os pés feridos

Feliz foi Adão
que com sua Eva, não resistiu
diante de tal formosura
maça, manga ou jaboatão
o seu gosto sentiu
na boca de Eva foi às alturas

nem sei o que de melhor há
sentir pela boca a derreter
ou em partes ir saboreando
ir aos poucos até lá
e do topo, assim verter
e, como Adão, ir aos poucos amando




DO FRUTO PROIBIDO


Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Sempre achei que o fruto proibido

às primeiras criaturas,

fosse um pêssego, pois

a cor,o aroma, o gosto e a textura

têm tudo a ver com as pessoas:

a cor da pele(embora talvez aí,

a jaboticaba e o sapoti possam

entrar nessa visão... e também o pequi...)

o cheiro entontecedor

se aspirado com a volúpia

das primeiras e das últimas descobertas...

Mas aí...

Também entrariam a maçã e a manga

e outras sumarentas...

O gosto, porque o beijo sabe a pêssego

na minha memória olfativa...

A textura, pois o pêlo

parece o da pele

suavemente convidativa

em tantos lugares do corpo...

Meu voto,é para o pêssego,

essa expressão do senso

poético e artístico

de Deus...

Poemas sem a letra "E"


poesia sem a letra "E"









VOANDO!

(Thereza Mattos)

Voar... voar...
para sonhar com o amado
pousar no solo
com todo cuidado
para não machucar
jamais o futuro
com máculas, mágoas...
Assim, sonhar
com o amanhã mais puro
agarrando o Sol
dourado, risonho
amigo, amado
abrindo como flor
nas horas mais claras
do dia... do amor!

São Paulo, 19/01/04

*******************************
PAZ
(Yara Nazaré - 21/01/04)

As horas vão passar
Mas nada vai mudar
O nosso caminhar
Nas ruas coloridas
Ornadas com lindas rosas
Os pássaros com lindos cantos
Seguindo os nossos passos
Tu sussurrando ao meu ouvido
As mais ditosas palavras.
Tão lindas como nosso amor
Só nós dois no campo florido
Com anjos no nosso caminho
Amparando o nosso andar
Com nada a nos abalar
Nossas mãos ligadas
Na forma harmonizada
Ouvindo a tua voz
Soando como um bálsamo
Do mais lindo e puro amor
Sinto uma maravilhosa paz.

***************
Sonhar
((sem E))


Schyrlei Pinheiro


Voltando a sonhar,
canto, amando, com cuidado
para não macular
a doçura do anjo
aportado no nosso lar,
calado como sombra,
ajudando-nos a caminhar
nas madrugadas inaugurais
do dia após dia,
infinito na magia
do amar.
*****

Quando canto

( clevane pessoa de araújo lopes)


Canto mais quando tristonha,
difícil sorrir todavia
quando a traição apunhala...
Na solidão,nos acompanha
uma angústia bisonha:
tanto quanto a alma fala,
mais a voz nos cala,
mais a alma apanha
trigo num campo calcinado...
Ainda assim, cantarolo,
rouca e à toa,
pois cantar reduz o fardo
faz do ruim,uma coisa boa...
Mas ao cantar um solo
sonhava um duo afinado...
Agora,nas chamas ardo,
nas chamas já mornas,frustradas
a destruir sonhos antigos.

O coração chora,
nas mãos dos anjos amigos
a tocar flautim
nos ouvidos dessa dor...

Turadinha Semanal ::Dute Cult Frutti ::










Recebo a turadinha desta semana, para todos os gostos ,idades e níveis de compreensão...

Serviço:



TURADINHAS :: Livros, Convites, Tirinhas e Ilustrações
:: Bruno Grossi & Diane Mazzoni :: www.turadinhas.com
(31) 8884.0913 - 8814.4942 - 3486.1995


Tirinha da Semana :: Dute Cult Frutti ::

Contatos:
Turadinhas


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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

CLESI E ALDRAVA






Aldravista entusuasmada com a causa da criança, Andréia Donadon, descreve abaixo, como aconteceu o salão Infantil na Feira do Livro de Ipatinga.


Acompanham-na o Diretor do jornal Aldrava, premiado poeta Gabriel Bicalho; o autor de Jenopapo, JS Ferreira,e ,com eles, a Relações Públicas de Clube de escritores de Ipatinga, CLESI.
Noutra, foto, ao lado da artista e poeta,o marido, JB Donadon Leal, Doutor em semiologia e professor da UFOP,também Poeta.

Os quatro estão frequentemente, a levar arte e poesia às escolas de Mariana.
Parceria Clesi/Aldrava no 2º Salão do Livro de Ipatinga

Na foto maior:Cida Pinho, Jorofa, J. S. Ferreira, Gabriel Bicalho, Andreia Donadon Leal e J. B. Donadon-Leal


Fotos:**Gabriel Bicalho, Marilda Lyra (Produtora do CLESI), Andreia Donadon Leal e J. S. Ferreira


**Palhaços , para a alegria da criançada.



E GIROU O MUNDO!!!!!!!
Duas estrelas soltas
pelo pé da leitura: Clesi & Aldrava

Texto de Andreia Donadon Leal - Déia Leal
Membro do Jornal Aldrava Cultural
Governadora do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais - MG

"Uma noite poética: céu claro iluminado pelas estrelas; cenário perfeito para programação de lançamentos dos livros da Série Giro-Lê. E que gire o mundo poético na cidade de Ipatinga, das artes das palavras unidas pelo colorido das artes desenhadas nas páginas dos livros. Imagin/ação, gosto, criatividade das crianças estimuladas pelos lápis de cores nas mesas pequenas e bancos dispostos no estande. Muitas participaram deste momento mágico, primordial para a convivência no mundo da leitura. Interação entre autor & pequenos leitores estimulada pelas brincadeiras dos palhaços.

A proposta do Clube dos Escritores de Ipatinga não poderia ser melhor e abençoadas crianças, adultos e passantes que prestigiaram o evento. Sem dúvida, o 2° Salão do Livro foi magnífico e o CLESI e o ALDRAVA cumpriram e fecharam com chave de ouro os lançamentos dos livros da Série Giro-Lê. O Estande apresentou trabalhos de escritores que contaram, inventaram e escreveram histórias com o dom de transformar palavras em arte para crianças de 0 a 90 ou 100 anos de idade.

Incentivar o hábito de leitura; apoiar a produção, difusão e distribuição de autores regionais é participar da construção e melhoria da cultura e da educação em nosso país.

E girou o mundo! Girou o mundo mágico das letras e das artes na cidade encantada no estande do Clesi!"

Entre os pequeninos




Na página anterior, publiquei o texto de Andréia Donadon, de Mariana, MG,Brasil,sobre poesia na escola.

Trago agora, uma de suas fotos ,onde fala de arte e poesia com criancinhas...Belo trabalho!

O porquê

"Deixai vir as mim as criancinhas, pois delas é o reino dos Céus"...
Cristo, psicólogo e professor, bem sabia o que dizia.
Ao abrir espaço para a palavra pura e a expressão simbólica
que todas as crinaçs já trazem dentro de si,ao nascer,
sinalizava porque é possível a alquimia,
porque se pode "ouvir estrelas"e burilar pedras,
porque é possível a reivenção do Cosmos...

Clevane Pessoa, para Deia Leal(Andréia Donadon)

Andréia Donadon Leal:"Como Trabalhar Poesia em Sala de Aula?"




Omagens;Andréia com alunos, os poetas J.Sebastião Ferreira, (sentado, primeiro plano), JbDonadon, em pé e ,depois, Gabriel Bicalho, todos aldravistas(pertencentes ao Aldravismo, Movimento Artístico Literário da cidade primaz de Mg, Mariana, onde residem).

10/10/2007 16h33
Execelente texto de Andréia Donadon Leal:"Como Trabalhar Poesia em Sala de Aula?"

Imagem:Andréia Donadon Leal e as crianças, em Mariana,Minas Gerais, Brasil, sempre a lhes mostrar o mundo das artes e da poesia...

O convincente nesse texto, é a que Andréia sempre atua ao experimentar ,não apenas fala de forma empírica,inova ao criar e reinventa o que já havia...
As crianças e adolescentes, lucram...
(Clevane)

COMO TRABALHAR POESIA EM SALA DE AULA?

Andréia Donadon Leal
Graduada em Letras pela UFOP


O trabalho de professores com poesia torna-se muitas vezes uma interrogação ou uma tarefa árdua. Como devo trabalhar com poesia na sala de aula? Recorrentes questionamentos de educadores das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental. O que dizer da poesia produzida para crianças? A visão de mundo veiculada pela poesia por poetas do passado, de modo geral, tendia a favor dos pais, mestres e adultos, enquanto que, na modernidade, essa visão muda muito. É possível falar das asperezas da vida e do convívio, o ilogismo aparece suscitar o questionamento das aparências, e o cômico se funda sobre o inesperado e rebelde.
A poesia para crianças define-se como a que a criança também lê e aprecia, não sendo uma poesia menor. A poesia contemporânea de qualidade tem caminhado no sentido de desfazer clichês, as metáforas cristalizadas, o simbolismo hermético, para resultar a palavra; ou seja, os propósitos pedagógicos cedem lugar ao pensamento poético esteticamente comprometido com a arte. As obras poéticas de nossos grandes escritores, cito Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa, como as mais indicadas poesias para a infância, justamente pelo fato de não escreverem especificamente para crianças; respeito à infância, oferecendo-lhe a possibilidade de combinar sons e imagens, satisfazendo seu gosto pela criatividade, experimentação lingüística e reelaboração do real.
Infelizmente para muitas crianças, o primeiro e último contato com a poesia é na escola. Fica a cargo do professor a tarefa de criar o gosto ou desgosto pela poesia. Há educadores que privilegiam o tempo em sala de aula com ensino de gramática, ensinando a medir as sílabas, grifar os substantivos do poema e a circular os verbos, etc. Agir assim pode limitar a imaginação criadora dos alunos ou enfraquecê-la, em vez de estimular a capacidade de criar. Nas séries iniciais a teorização é dispensável, pois torna o trabalho desestimulante, cansativo e esconde o sentido mais belo da poesia. A criança tem capacidade para viver poeticamente, independente da condição social, o conhecimento e o mundo. Cabe à escola criar situações para incentivar a criatividade, intuição e o ludismo do discente, de modo a despertar-lhe a sensibilidade poética.
Hoje não é somente necessário apresentar textos de qualidade, mas somar outros elementos a essa aproximação, como o entusiasmo do professor ou mediador. O conhecimento da terminologia técnica é dispensável nas primeiras séries do ensino fundamental, sendo mais importante o exercício de dizer e ouvir poemas e de participar com o poeta na identificação do seu material poético. Poemas com onomatopéias, aliterações, compassos curtos, repetições de vocábulos e rimas são excelentes para alunos da série inicial de alfabetização. Ao repetir versos, aliterações e sonoridades, a criança realiza suas primeiras aproximações com a poesia. A primeira fase de seu contato com a poesia é a do domínio das sonoridades. Para crianças menores o melhor é lidar com textos poéticos que privilegiam a sensibilização e a vivência do texto. A iniciação ao texto poético deve começar desde cedo, para que esse gosto, uma vez instalado, seja passado para a adolescência e idade adulta. Os leitores iniciantes apreciam poemas como trava-língua, jogos de sons e palavras ou pelo elemento representado como animais, folclore, pessoas queridas, objetos inusitados.

Sem pompas e exageros, a poesia deve ser antes de tudo, lida, ouvida, cantada, sentida, degustada e vivenciada. Atividades que privilegiam o ato de ouvir e ler poemas com vários ritmos, melodias e entonações é um excelente começo.Criança menor poderá ser oferecido livros poéticos com textos menos densos e com imagem visual para facilitar a leitura. O assunto ilustração no livro tem sido bastante questionado nos últimos anos segundo Neusa Sorrenti, em A Poesia vai à Escola. A imagem não se restringe à função de traduzir o texto; ela ilumina novas percepções de leitura. As ilustrações não devem tomar o texto ao pé da letra e sim que os desenhos sejam somados ao texto por meio do diálogo texto/ilustrador. A ilustração deixaria de ser um mero ornamento gráfico para ser um fator de ampliação do elenco de significação do texto. Vejo inúmeras ilustrações em livros infantis quererem “desenhar” o texto inteiro, ou seja, o ilustrador quer contar a história toda no desenho. Ledo engano e postura inaceitável. A poesia pode dispensar esse apoio, e quando ele existir, deve ser um algo a mais, guiado pela qualidade do conteúdo, pois o livro cairia na estratégia publicitária de criar belas embalagens para produto de gosto duvidoso.
O trabalho com textos poéticos curtos deixa com que o leitor complete-os com sua experiência e individualidade. A sonoridade das palavras para crianças tem similar sentido como seu sentido. Arranjos de palavras levarão o leitor a perceber a musicalidade e a sonoridade e com isto o professor poderá aproveitar e recorrer a exercícios que levam a recriar/ e ou inventar outras palavras. Textos que recorrem a sons repetidos também causam atrativos jogos de sonoridade, sobretudo quando incentivado o leitor a ler em voz alta, marcando a cadência batendo palmas. Poemas curtos apresentam estímulo ao pensamento. Outra sugestão: trabalhe também com livros de poetas locais. Posteriormente convide-os para participarem de um Sarau e entrevista com alunos. Quando a instituição consegue inserir no ambiente escolar a presença de poetas e artistas, este recurso funciona como uma nova peça na construção de um ensino mais eficiente e concreto, incentivando ainda mais o gosto e prazer pela leitura e consequentemente pela poesia.
Hoje os tempos são outros e cada um escolhe as letras para emendar seu texto... Nada melhor que citar o poeta Camões que sabiamente versejou há muito tempo:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades...”


Andreia Donadon Leal
Publicado originalmente no Recanto das Letras em 09/10/2007(www.recantodasletras.com.br)
Código do texto: T687850


E,abaixo, o pertinente comentáruio do Professor Aécio Sebastião de Souza:




Comentários

10/10/2007 13h28 - Aécio Sebastião de Souza
Sobre seu texto, considero-o excente! Andréia, na minha modesta opinião não segredo: tudo que é feito com seriedade, profissionalismo e dedicação, é sucesso e retorno garantido! Infelizmente muitos \'profissionais\'não agem assim em sala de aula! O resultado está aí! O analfabetismo funcional se alastra como uma praga. Pobre desse país, sorte dos políticos! Jamais serão incomodados! Sempre que pego um livro infantil observo e: questão das gravuras.Acho pertinente quando você diz que tem ilustrador que acha que tem que mostrar tudo, como se isso fosse possível!!! Importante é permitir que a criança \'solte\' sua imaginação!Por isso mesmo observo e descarto o livro de imediato, é a questão dos textos. Há frases que não se concluem ou não se completam nesses livrinhos infantis, tornando os textos incompreensíveis para uma criança, sem sentido mesmo. Por isso não suporto vendedor de livro em porta de escola! (risos) Vender é o que importa, embora, na maioria das vezes, não se saiba nem o que está vendendo! Também acho que não é o meio do programa de esporte ou do futebol que a rede globo (com minúscula mesmo, esse câncer da democracia brasileira), com suas chamadas piegas, irá \'conscientizar\' alguém de importância: leitura! Ridículo! Aí durante toda a grade ela incentiva outras coisas. Bem não vamos discutir isso agora! Parabéns pelo texto, sua produção intelectual e cultural está cada vez mais profícua! Beijos, Professor Aécio Sebastião de Souza.





Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 10/10/2007 às 16h33 também em http://www.clevanepessoanet/blog.php

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terça-feira, 9 de outubro de 2007

Reflexões sobre as Águas, Tom Zé, lavadeirinhas





Omagens:Lavadeira(Daumer)
Tom Zé:página: www.rockconcerts.it/artisti/concerti

"REFLEXÕES SOBRE AS ÁGUAS, AS LAVADEIRAS E ASSUNTOS AO REDOR...

Clevane Lopes *


Tom Zé(***), ontem, numa entrevista, contou de seu impacto imagético ao deparar com as lavadeiras em sua terra; roupas de todas as cores, estendidas numa grama bem verde e as vozes a cantar, por exemplo, “Meu Limão, meu Limoeiro”. Com aquele sorriso maroto, mas comovido, Tom diz que elas faziam segundas vozes paralelas - e vai enumerando: terceiras, quartas... sextas vozes, enquanto falseteia os versos da canção, a imitar as lavadeirinhas.

Venho ao computador e aviso Everi Carrara, que adora Tom Zé e fez, em seu Jornal Telescópio, uma bela homenagem aos sessenta anos do artista.
Publicou uma poesia que escrevi para esses parabéns merecidos. Veja seu texto:

"TOM ZÉ E OUTROS HERÓIS CONTRA ESSA CIVILIZACIÓN DE PALHA

"Se eu pudesse,inventaria uma máquina contra a burrice" -Tom Zé -

O escritor francês Antonin Artaud dizia: "Encaro a vida como homem livre; livre, ou seja, que jamais se deixou acorrentar". Sentia-se incomodado por essa "civilização de palha", européia e burguesa. Ele exilou-se voluntariamente no México, entre os povos indígenas,nas primeiras décadas do século vinte.

Outros artistas de gênio e poder de indignação perante a barbárie, procuraram também se desvencilhar dessa civilização que insiste em escravizar e/ou conduzir artistas e nações inteiras sob diversas e repetidas formas monopolizadoras. Eu sempre penso em TOM ZÉ, o compositor baiano mais emblemático do período Tropicalistas e pós-Tropicalista,o qual nunca se deixou conduzir pelos modismos e a falação propagandista oficial. TOM ZÉ passou por sérias dificuldades e obscurantismo. Mas e daí? Ele assim como outros raros talentos é um compositor livre,de formação musical erudita,cuja erudição deve ter lhe concedido tantos benefícios quanto o fraseado melódico das cancões das lavadeiras de Irará,no interior da Bahia. Eu intuo que o exílio de TOM ZÉ é para dentro, para a intemporalidade arqueológica de sua infância,quem sabe. Do mesmo modo como o poeta Rilke se referia á infância, sendo o único verdadeiro país para o poeta.TOM ZÉ disse desejar reconstruir essas melodias que ouviu nos tempos de criança, promovendo uma espécie imaginária e fértil de arrastão estético na cabeça. E eu leio algumas de suas entrevistas, pressentindo que sua aguda visão musical se redimensiona para as questões de natureza política, fora do contexto convencional - todavia, como um estudo, uma nova perspectiva de análise para confrontar - se perante a burrice e as injustiças sociais que nos cercam. Algo assim como o surgimento de um povo novo, que reunisse esse sincretismo revolucionário genuinamente brasileiro e globalizado de baixo para cima, misturando negros, brancos e índios -só para lembrar o saudoso Darcy Ribeiro. Eu intuo que a música de TOM ZÉ é simultâneamente invenção poética e desconstrução arquitetônica, do modo como fala o Niemeyer. Uma música que não é retilínea, é cheia de curvas e rítmos constragedoramente simples e bem-humorada. Sou daqueles que acreditam no poder dissociativo do riso para aniquilar essa globarbarização reinante.

EVERI RUDINEI CARRARA: músico, escritor, editor, professor de tai chi chuan,
cujo site é http://www.telescopio.vze.com.

Mas, de retorno às lavadeiras, percebe-se o fascínio que elas causam nos nos artistas. Muitos renomados, por exemplo, Gauguin, as pintaram. Muitos anônimos, em todos os países, e, no Brasil, em todas as cidades por onde passa um rio, também.

E elas cantam. Quase uma tradição.

Em Belo Horizonte, as alegres profissionais, apresentam-se acompanhadas do Carlos Farias, poeta e violonista, que as empoderou e divulgou, gravou com elas Cds, como o lindo”Aqua” e de vários outros artistas.

Qual a mágica? A água representa o movimento, a vida. Em última instância, o líquido amniótico, onde nadamos e nos nutrimos in útero. Nada que fica para trás é capaz de prendê-las. Odilo Costa, filho (*), revela, num verso: ”tudo cede à força das águas”... A velha marchinha brasileira diz “a água lava, lava lava tudo/a água só não lava, a língua desta gente” - para as comunidades ribeirinhas, se os rios são piscosos, ninguém passa fome.Se há água, ninguém fica com a roupa suja... Oriundas de época sem que não havia máquinas de lavá-las, as mulheres se unem, porque uma protege a outra, e formam um grupo. E cantam e cantam...

Nas regiões mais pobres, nunca, hão, talvez, de possuir uma lavadora. Mas suas mãos esfregarão onde for preciso.

O ditado “roupa suja se lava em casa”, talvez tenha nascido, porque as fofoqueiras de plantão, ali deságuam todos os fuxicos e intrigas... à força de não querer sua vida pessoal levada à beira do rio, espera-se que a descrição dos mal-estares domésticos, amorosos, profissionais, não saiam das “quatro paredes”...

Pearls, papa da gestalterapia, afirmava sabiamente: ”Não apresse o rio, Ele segue sozinho”... Moldadas por esse “caminho que anda”, essas mulheres que lavam aprendem uma filosofia de vida particular :tudo pode ser limpo. Nada quase é permanente. ”Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”... Se não segurar bem a peça de roupa, ela pode ir embora. Segure, então, e muito bem por analogia, o marido, o filho, o emprego...

E as lendas das águas? O Boto, moço que gosta de dançar e que pode ser responsabilizado por barrigas indesejadas... A Iara, que os gregos conheciam como sereias, contadas por poetas, qual Circe, que seduziu Ulisses, rei de Ítaca, sim, aquele que deixou a Penélope a tecer à sua espera... tecedura que ela desmanchava escondido, para jamais terminar, pois se a concluísse, teria de escolher um marido substituto...

Minha mãe, nos contava a rir: “Havia uma mulher feia que queria casar. Um moço lhe diz que se ela suportar passar a noite dentro do rio, ele com ela casará, mesmo amando outra.

E a megera passa a noite tremendo e dizendo: ”Treme, treme, corpo malvado: hoje estás tremendo e amanhã estás casado”... E o patinho feio se olha no espelho das águas, para verificar que cresceu, virou um príncipe... E Polegarzinha navega no rio sobre uma folha... Narciso, o que não se sabia belo, pois jamais olhara para outra pessoa, ao ver sua imagem no espelho aqualino, apaixona-se perdidamente pela beleza agora vista. E mergulha em busca de si mesmo, para a morte. Ah, quantas histórias, em todos os tempos e em todos os lugares...

Sobre as lavaderinhas, lavandeirinhas, escrevi um cordel:


Lavadeirinhas

Clevane Pessoa Lopes


Para amenizar a lida,
as lavadeiras de Minas
lavam cantando demais
o que lhes vai pela vida...

Rezam louvando a Maria,
cantarolam seus amores,
em coro choram suas dores,
sérias, mostram sua alegria,,,

Nas pedras batem os panos,
às vezes soltam risadas
enquanto dão suas braçadas,
as mesmas de tantos anos...

Às vezes, roupas perseguem,
que lhes fugiram das mãos,
os peixes são seus irmãos
por mais que os peixes o neguem...

Velho Chico, um grande rio,
acostumado às cantigas,
vê nelas grandes amigas,
a ninar seu passadio...

Os passarinhos se intrigam:
de que penas são tais vozes,
cantando lentas, velozes,
que sobre as margens se abrigam?

No Jequitinhonha, do Alto
cantam tanto as de Almenara,
que seu coro, qual jóia rara,
está num CD bem lauto...

Cantavam as ribeirinhas,
em Portugal, no passado,
e ao vir prá cá, com agrado,
trouxeram suas musiquinhas...

Por isso cantam as baianas
quando lavam na Abaeté,
linda lagoa - e com fé,
rezem sagradas, profanas...

Sobre madeira flutuante
- cada mulher tem seu porto
por questão de mais conforto
a cabocla lava expectante:

vigia se o boto aparece,
peixe em moço transformado,
um sedutor encantado
(senão a barriga cresce)...

As roupas brancas clareadas
à luz do sol, clareador,
ficam alvas, sim senhor
e depois serão engomadas...

São lindas as lavadeiras,
em belas coreografias
ensaiadas todos dias,
dançam e cantam faceiras

E esse show, sem ser ensaiado
toca qualquer coração,
pois corpos, braços, sabão,
são um todo sincronizado...

Que cantem sempre, avezinhas:
desaparecem os cansaços
nas canções alegrezinhas
que são seus melhores traços!...

Lave a alma, além do corpo, assim quais as lavadeiras lavam as roupas. Limpeza - é fundamental para que você se sinta melhor...


No momento, elas se apresentam no Palácio das Artes, em belo Horizonte. Uma aventura, sair do norte de Minas e navegar até aqui nas barcas do desejo. Uma epopéia, saírem de seus lugares de origem e, deslumbradas com esse mundão cheio de novidades, elas cantam. E en/cantam.

Belo Horizonte, 17/11/2006



* Escritora e poeta, exerce a profissão de psícologa e publicou dois livros de poesia está presente am algumas antologias. Escreve em alguns sites da internet Literária. Obteve o segundo lugar em um concurso do contos em Ipatinga- Minas Gerais. - Leia mais sobre o autor "



***Escrito em 2006:Tom Zé xompletou, neste outubro, 61 anos.

**Página do site Comunidade Mayte.

http://www.comunidademayte.com/Portal/artigos.php?id=1174&idCanal=20

domingo, 7 de outubro de 2007

Marco Llobus:"Varal das Almas"





14/06/2007 15h18
Marco LLOBUS : VARAL DAS ALMAS

Imagem:em foto da artista Sueli Silva: Marco Llobus, eu, Zé Ênio, do UNIAC,e um jovem poeta,Aleister Crowley.Local:Centro Cultural Lagoa do Nado (um dos muitos mantidos pela prefeitura de Belo Horizonte) em meu recital "A Poesia pede passagem", quando também Tânia Diniz, expôs exemplares de seu jornal de Poesia Mulheres Emergentes (18 anos de existir)(29/03/2007).





O duplo "l" desse Llobus parece sinalizar as suas pontas extremas : in/quieto ;concentrado/viajante do imaginário;pensador/agitador;idealizador/realizador;sonhador/empreendedor;prosador/poeta...

E por aí vaí, mas há um quesito de seu existir, em que é de uma firme e única instância de ser - AMIGO DE SEUS AMIGOS.Lobo, um bom, de fazer gosto à matilha...


De Marco Llobus (*), autor dos poster virtuais que deixei em Mariana e que criou para minha poesia, assim como os que Ricardo Evangelista deixou em Montevidéu, esse versejar:


VARAL DE ALMAS


Llobus escreveu:



esqueci minha alma no varal
Pra quenta sol e quará os encardidos
debochada em vento de promessa
anuvia presa ne pregador pressuntado

de certas malicias não se escapa
labuta suada é maculância de tempo
marca de poeira do correr dos encontros
noite e dia, sina respingada de trajetória

tragédia é orvalhança em remanso
abandono de sono sem coberta
encruzilhada de medo e duvidas
onde tudo pará... até demônio pra conversar

neste caminho de adão
as primeira experiências e esperança de estrela cadente
dispois solidão e pensamento se perdendo o firmamento
assombro de doido e de cagão...
criança com medo de bicho papão

é... o mundo hoje é cheio de informação
tudo se encontrando, mas resposta não tem não
e se assobia bicho... Galho caiu...
ai é assombro tomando forma
atenção que até formiga arrepia

mas quando explode a luz
e passarim faz orquestração
o mundo se renova... frio
mas vou deixa mais um pouco, pra vê se quenta, depois recolho ela pra dentro

*****************************************************

(*) Marco Llobus:artista plástico, fotógrafo, divulgador cultural,performer, preside a Rede Catitu de Divulgação e eventos líteros artísticos e desenvolve projetos culturais a perder de vista...Sobretudo, poeta.

Contatos;llobus@gmail.com.br


Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 14/06/2007 às 15h18

clevaneplopes@gmail.com

http://www.clevanepessoa.net/blog.php

http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=723

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

RAFAÉL JESÚS GONZALÉZ:A VECES LA LUNA PLENA



>> ÍNDICE
28/08/2007 11h22
Às Vezes, Lua Plena:Rafaél Jesús Gonzalez, a Elena.
Rafael Jesús González
mostrar detalhes 01:50 (9 horas atrás)


A veces la luna plena

a Elena


A veces la luna plena
es tan fría que no parece
merecer ser tan bella.

Pero hay noches
en que la datura amarilla
con su perfume espeso
le presta a la luna color y calor.

Esas noches es testigo la luna
de que lo que hemos bailado
ni la muerte nos puede quitar.

A veces la luna plena
es tan bella que no parece
merecer ser tan fría.



© Rafael Jesús González 2007




Sometimes the Full Moon

for Elena


Sometimes the full moon
is so cold that it seems
not to deserve being so beautiful.

But some nights
the yellow datura
with its dense perfume
lends color & warmth to the moon.

The moon is witness, those nights,
that what we have danced
not even death can take from us.

Sometimes the full moon
is so beautiful that it seems
not to deserve being so cold.



© Rafael Jesús González 2007




Elena Castañeda (August 24, 1951 - August 9, 2007)

http://www.indybay.org/newsitems/2007/08/12/18440186.php

Versão para o português

Às vezes, a Lua Plena

para Elena

Às vezes, a lua cheia,
é tão fria ,que parece
não merecer ser assim ,tão bela.


Porém há noites,
em que a datura amarela,
com seu denso perfume,
empresta à lua, cor e calor.

Nestas noites, a lua testemunha
de que aquilo que um dia dançamos,
nem a morte pode acabar...

às vezes, a lua cheia,
é tão bela que nem parece
merecer aparentar ser fria...

N da tradutora

Amigo Rafael:

Saludos cordiales.

Ese poemeto bién traduz tu luto.

En esa libre tradución he buscado mantener la leveza, el ritmo y miesmo el luto ,el pesar por Elena, la amiga , que se fue,asta l' otra dimensión tan recientemiente.
Y el final de las palabras "parecer" , somada a "tão"("tan " en mi Português), en nuestro idioma, "sertão",( tierras sin agua,lluvia, es el miesmo qué decir, "desierto" ).
Entonces, posteei esa composición, fiel a tu mensage(contexto)...
Abrs cordifraternales:

Clevane Pessoa
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, en 28/08, cúando Marte , en lo cielo parecenos semejante a otra luna...