segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
"O Grão Imastigável!
Algumas pessoas nascem estreladas.Brilho para todo o lado e pulsáteis.O jovem BRUNO GROSSI tem talento de sobra, mas ainda essa, será reciclivada /reciclada por sua esplêndida criatividade. Muito novo, esse belorizontino nascido em 1979,já era multifacetado:desenhava, escrevia,sobretudo, criava.Donde os fanzines abrirem trilhares até aos curta metragens (não apenas os experimentais, mas os que concorreram e foram premiados em festivais.
Seu nome está associado à CÃO XADREZ, agência mais-que cultural, às TURADINHAS (tiras em comum com Diane Mazzoni.E agora, sobretudo, ao muito bem escrito e estruturado O GRÃO IMASTIGÁVEL.
Na capa, marrons reportam à terra, onde grãos se semeiam.Mas marrom também é o "chaos"- e esse caos seria a não exposição clara e simples.É livro passível de muitas interpretações.Na paleta de um pintor, quando se misturam todas as cores, obtem-se o marrom...E,artista que é,o autor bem sabe disso.
Venho de saber que o livro primevo foi lançado em marmitas.Boa idéia, quando, principalmente, faz compreender que a Poesia o retro-alimenta.Lembro o porta Claudio Márcio Barbosa, que reza a verdade:
POESIA
Não dá camisa a ninguém?...
Mas
veste,
nutre
e
harmoniza
a alma!
Nessa Metáfora ,da Poesia que alimenta-a-alma, Bruno fala de sua intensidade quanto a digerir o seu tanto de beleza:
"Minha arte não é contemplativa.É visceral,é negra"
E a Poiesis, no seu leque de grandes tomadas e multifacetadas expansões, tem nesse imastigável, o deglutível, apesar de, pois ele não conseguiria deixar de se alimentar de seus próprios produtos.
Sim , o poemário, artesanal e de bom gosto, não doura o que o cotidiano nem as elaborações mentais oferecem , grão a grão.Mas mostra a promessa da messe ali ,já debulhada e após triagem criteriosa.
Meu exemplar chegou-me pelo Correio, li de imediato, reli e escrevi, ao calor da colheita, cada um desses grãos, o integral, o depurado , o pilado("sofre o arroz no pilão ,veja que brancura após", escreveu meu amigo Claudio Augusto de Miranda Sá, em referência a um poemeto de Ho-Chi-Min), o cozido...E escrevi diretamente no meu blog (http://ww.clevanepessoa.net/blog.php).Acabara de assinar, quando uma violenta descarga elétrica apagou o Pc.
De alguma forma, frustrada e irritada, somente agora, volto a falar do livro instigante desse rapaz poeta.Avisei-o e ele se mostrou compassivo,até.Entendeu porque eu não lhe fazia logo uma resenha.E hoje, volto a escrever...
Em cada um dos poemas da sementeira,a necessidade absoluta de ser fiel a si mesmo.Por isso, os títulos são bastante adeqüados ao contexto,de per si.
E se o Poeta reconhece a essência e nega a claridade, verga-se às necessidades de ser fiel aos seus próprios momentos.Em "Malevolência,", há um lirismo camuflado:
Malevolência
* Bruno Grossi*
Na magnificência da tristeza,
Um ardor latente em seu peito.
O ressonar da madrugada,
Amargura o teu ser.
Saudosa malevolência
No arrepender dos olhos,
Lacrimejados de rancor,
O consome, o maltrata,
Não perdoa sequer
Um momento infame
Do teu ardoroso coração.
CACTOS
* Bruno Grossi *
A sombra me persegue
Sob a névoa.
Não consigo me mover.
Sou incompreendido,
Preso em um muro
Ou em meu próprio pensamento
Meus olhos já não fixam em algum lugar,
Como a lua pára para te olhar.
Estes vilipendiados olhos
Doem, choram e imploram
Para que fiquem só.
Não consigo me livrar
Do infortúnio calar.
Sinto pessoas a me olhar,
Como um animal devora
A sua insípida carniça.
Creio que irão matar-me.
Sinto-me desprotegido, frágil, inútil.
Sinto-me sem amor, sem dor e sem desejo.
Já não sei o que fazer,
Procuro a solidão
Para que a minha trágica energia
Não contagie as pessoas.
Para que o meu olhar
Não cruze com os demais.
Assim terei meus próprios sentimentos,
Meu próprio coração,
Que a cada despertar
Encontra o silêncio.
Estou surdo e cego,
Estou inválido.
Submeto-me ao inoportuno desespero,
Ao incômodo calar.
Viver agora dói,
Não mais a quero.
Quem já tentou pegar em certo tipo de cactus, abundantemente envoltos em leves espinhos, quais penugens, sabe que depois, ficará com muitos fincados na pele, onde entraram sem pedir licença e que é doloroso carregar os que não se consegue arrancar de imediato.Por isso, considero o título do poema abaixo, a essêencia dos versos, bem escolhido.
Sua natural motilidade, que o torna incapacitado para a inércia,pode dar-lhe essa sensação clamada nos versos abaixo, de às vezes, sofrer a ciment/ação de convenções que o prenderiam.Mas não ficaria nessa por muito tempo, pois faria asas com o tanto de criatividade que o assola, irremediavelmente e sem descanso:
Sou incompreendido,
Preso em um muro
Ou em meu próprio pensamento.
Quando lhe falta a solidão na qual se reveste de inspiração, reclama,decodifica-se, interpreta seus sentimentos dolorosos:
"Sinto pessoas a me olhar,
Como um animal devora
A sua insípida carniça.
Creio que irão matar-me.
Sinto-me desprotegido, frágil, inútil."
Sua hipersensibilade se mostra quando ouve ,da noite, os ruídos brancos, os ruídos brandos, a percepção do sofrimento alheio, além do pessoal e intranfesrível :
O ecoar da noite (Bruno Grossi)
O ecoar da noite,
A destreza do olhar,
As mãos cálidas sobre a mesa
e um ladino pensar.
O vilipendiado amor,
Um varão massacrado,
Enveredando ao inconsciente
Pela vontade imprópria.
A vela, o fogo,
O mórbido calejar
das almas que
não param de chorar.
Há algo de de gótico nos versos abaixo, sartreana náusea ,fastio do que não foi passível viver e entojo do já percebido/dimensionado/vivido:
Desilusão
*Bruno Grossi*
Os ventos da era doce sagrada
Trazem lembranças do fastio.
Os sinos tocam às seis da tarde
E eu me deito no jazigo.
As cores do meu corpo,
Os brilhos dos meus olhos
São cartas que se despedem
Do revoar da vida,
Como um velho suicídio
Ou um corpo iluminado,
Um sonho transfigurado
Com um cheiro podre.
Onde comprar: Diretamente com o autor ( e-mail de contato: brunogrossi@gmail.com )Também na Livraria Manuscritos - Cinema Belas Artes (R. Gonçalves Dias, 1581, Praça da Liberdade - Belo Horizonte - MG-Brasil).
Preço: R$10, 00.
O valor é quase simbólico, pode tornar-se, em breve, um presente "Cult", pois provavelmente, outros livros virão.
Claro, tenho vontade de fazer aqui uma razoável mostra do conteúdo, mas não espero quebrar o impacto das própria leitura, a quem gosta de boa poesia.E quem não, penso que passará a gostar, tal o caráter intimista desse Poeta com o qual muitos espíritos hão de identificar-se :afinal, rasgar as vestes da alma e evicerar-se, não é para qualquer pessoa.Então, os muito reservados, hão de aproveitar os conteúdos de Grossi, para mostrá-los a si mesmos e assim poderem chegar a uma auto-análise impensada talvez.
Continuaremos ,qualquer dia e vamos publicar uma entrevista feita com ele.
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