terça-feira, 5 de maio de 2009

PARA SERMOS NÓS MESMOS -Clevane

O amigo Mhário Lincoln honra-me quando publica meus textos no Portal que leva o seu nome.


http://www.mhariolincoln.jor.br/convidados/clevane-pessoa-em-pessoa.html

Clevane Pessoa, em pessoa!
02/05/2009 - 01:28h


PARA SERMOS NÓS MESMOS

Clevane Pessoa de Araújo Lopes *

Temos que aprender a reedificar nossas edificações interiores, que muitos tentam destruir. Dentro de nós, nos vem um instrumento belo e forte que se chama intuição. Caímos num mundo feito muito, muito tempo antes de nós, e ele está cheio de dogmas, leis, normas e preceitos, conceitos e preconceitos. Necessidades que nos afastam de nós mesmos. Crianças costumam acreditar - e uma de nossas maiores “conquistas” apreendidas do mundo externo é desacreditar no outro, desconfiar de quem nos cerca. Como nos enganam, quando nos fazem esquecer a criança dentro de nós…

Se estamos a caminhar apressados e nos perguntam as horas, levamos um susto, a carga adicional de adrenalina no sangue, a taquicardia paroxística, traduzidas do medo que hoje sentimos de outros humanos, é muito triste.

Claro, há motivos: assaltos, arrastões, seqüestros relâmpagos e demorados. Numa capital, por exemplo, não se fica a conversar na porta de casa, não se cumprimenta quem por nós passa muito depressa, tão depressa quanto nós também passamos pelos outros. Nas praças, caminha-se, corre-se, sem sequer olhar para os lados. Às vezes, um cãozinho na coleira nos proporciona um dedo de prosa. Não são contados “causos”.

Aquele que morre, é um entre dezenas. O que nasce, na Maternidade, já terá a companhia de outras pessoazinhas nos berçários.

Não somos mais “o” alguém… O filho de seu fulano, o neto do velho beltrano. Passamos a ser ” um”. Um médico, um carteiro, uma advogada, mais um, mais uma.

Kierkegaard,em 1850, já chamava a atenção para o fato de que um indivíduo será sempre superior à sua espécie vista como um todo.

A nossa individualidade é que nos torna singulares. Claro, a adaptabilidade é um exercício: sofre menos, quem se adeqüa ao necessário. Mas não precisamos ser quais animaizinhos amestrados, aquele que se curva ao mestre, ao dono, ao chefe, a patrão, a ponto de perder-se de si, nem adestrados, aqueles que renunciam aos seus próprios ideais e filosofia de vida, à sua maneira de ser, para não perder um emprego, um status, um casamento sem amor, mas que traz benefícios pecuniários, por exemplo.

Há um tempo, na vida, em que precisamos, sim, ser alunos e ter mestres. Somos filhos a quem os pais ensinam. Temos de respeitar os que vieram antes, os que já estudaram mais, os mais sábios, instrutores de fé, de crenças. Mas nem estes têm direito de nos subjugar, amordaçar, calar.

Respeitar alguém não significa ser-lhe subserviente. O brio de ser, o brilho da individualidade, somente lustra nossa personalidade.

Quantos, para agradar a companheiros conjugais, amantes e namorados, não raras vezes, amigos, anulam-se, desconstroem-se, desinstalam-se de seus melhores traços? Renunciam a suas metas, a seus dons, a seus talentos.

Somente deveremos exercer profissões que nos atraiam, nas quais nos sintamos realizados e felizes.

A propósito: há algo de mal na felicidade? Quantas pessoas acreditam-se não merecedores da felicidade plena? Pois saibam que a busca da ventura é o primeiro dever do seres humanos.

Quando, em outubro/2007, fui ao CLESI(*), em Ipatinga, MG, receber a antologia Prosa Gerais e o troféu de segundo lugar de conto por “O Balão Amarelo”, conheci, na van do Resort San Diego, que nos levava ao auditório da USICULTURA, um jovem e talentosos poeta e contista.

Conversa vai, conversa vem, ele contou que morava em Juiz de Fora (onde morei), que era belorizontino (onde agora resido). E, pasmem (eu não!), deixou o cursos de Medicina, para ser… Poeta.

Adorei conhecer tal força, tal auto-respeito, em alguém ainda longe dos trinta anos anos. Ele subiu ao palco três vezes. Certamente as palmas, para os conhecedores, como eu, dessa escolha maravilhosa, tinham um sentido muito maior.

Sim, às vezes, é belo renunciar. Mas por uns tempos, por favor! Como viver longe de si mesmo, da pessoa que você veio destinada a ser? É preciso adquirir a habilidade de estabelecer espaços, hiatos de temporalidade, momentos de generosidade em prol do outro. Isso é belo. Mas assim que puder, rasgue os ombros e deixe que dos cortes, nasçam asas. E voe, sendo você mesmo…

Há quase três décadas, escrevi:

“A liberdade de ser
É o espaço do sêr,
Dentro do estar, para fazer-se.”

Eu própria, embora não divorciada da Literatura, nem dissociada de minha essência poética,p ara responder às necessidades de ser companheira e mãe, deixei por uns tempos,paralela a tudo mais, a minha vocação de escrever.

Assim que pude, no entanto, retomei as hastes de minhas flâmulas, redesenhei os brasões de meu ideal e voltei ao meu fazer de escritora, amante das palavras, sacerdotisa do verbo.

E jamais escrevi tanto: eu , de mim, aqui estou, militante por mim mesma, pelo meu modo de ser- estar no mundo…

O sentido da Vida, é simples:viver. Mas não se traia, nem se esqueça. Lembre-se de você, fruto de si mesmo. Lembre-se sempre de ser único. Você…

Com os melhores votos de feliz e consciente Ano Novo. Sempre é tempo de mudar, quando é preciso. Mude para melhor. Você tem esse direito. Todos nós temos: o direito de sermos nós mesmos.

Belo Horizonte, 28/12/2006


“* Escritora e poeta, exerce a profissão de psícologa e publicou cinco livros de poesia está presente em oitenta antologias, por preiação ou cooperativismo entre escritores.Possui 20 e-books. Escreve em alguns sites da Internet Literária. Premiada no Brasil e no Exterior, acaba de merecer o Nono Prêmio aBrace, no X encontro desse Movimento Cultual, que aconteceu de 14 a 20 de abril no Exterior.Escreve Poesia e prosa.É palestrista e oficineira. Reside em Belo Horizonte, Mg-Brasil, mas nasceu no Rio Grande do Norte.

Um comentário:

Anônimo disse...

BRAVOOO!! ADOREI! Mil carinhos, Mel Redi
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/melredi