sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Do Ofício da Palavra

Em foto de Graça Campos, Tânia Diniz e eu, no Programa Brasil das Geraes, enm entrevista no tema "Para Que serve a Poesia", e, lém de nós duas, ali estavam Marcelo Dolabella e Wilmar Silva.


Inspirada na notícia abaixo, brotou-me o poema que aqui transcrevo:


"Ofício da Palavra é um projeto de literatura do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, realizado no Museu de Artes e Ofícios.
Uma vez por mês, um encontro privilegiado com os maiores nomes da literatura brasileira. Os autores falam sobre o ato de escrever e o seu processo criativo, lêem trechos de sua obra e conversam com os leitores.

O projeto estréia agora com o premiado escritor Sérgio Sant´Anna e ganha programação permanente a partir de 2007."




Do Ofício da palavra

Clevane pessoa de Araújo Lopes (I)



Do ofício da palavra,entendo desde menina.
Passei pelo fogo depurador
e provoquei uma florescência de primavera.
Passei pelo crivo da exigência
e reduzi inúteis sementeiras
a presevar as boas.
Passei pelo maralto,náufraga de mim mesma
e fui dar nas areias douradas
de uma praia deserta,
onde esculpi o verbo em castelos
de mina memória atávica.
Passei pelo campo estelar
e desci num cometa vabundo
(fiquei meses escrevendo para as estrelas inalcançáveis, agora)
Passei por um pomar de pomos de ouro
e ganhei ,por concurso , o título
de "Musa das Folhas no Chão".
Passei por furacões interiores
que quase me destroem por inteiro
o self de pétalas
e saí escrevendo em arco-íris.
Passei por desertos onde há anos não chovia
e me fiz nuvem,adentrei ao coração do Oriente
quando chovi, de forma inesperada.
Passei por messe de trigais e dancei
enquanto transportava feixes .
Cheguei aos portos de rio e ajudei a descarregar prateados peixes,
XPTOs sobre meus ombros rotos.
E fiz preces em versos
para as sagradas noas.
Cheguei às tribos de meus ancestrais
e esculpi com ele ,
cem mil canoas de lamentos,
onde redesenhei a poesia
das rituais escarificações.

Meu ofício é escrever.
Saio e vou às fontes que parecem me esperar.

O ofício da palavra é multifacetado
e do carvão dos pensamentos, emoções e sentimentos,
faz brilhantes,espelhos de estrelas e arco-íris
asas de borboletras(*)
estelas de hieróglifos nem sempre decifráveis...
(*) O neologismo "borboletras",ao que eu saiba, foi arquitetado-escrito por Yeda Schamltz(pernambucana por nascimento, radicada em Goiás,filha de goiano e mineira, neta de poeta e de arquiteto), embora já o andem usando com indevida im/propriedade.
Aqui,transcrevo-o,numa homenagem, in memoriam dessa magnífica poetisa de Goiânia(veja em outra parte desse blog,páginas com os muros de sua casa,onde seus versos estão escritos, em fotos recentes de Maria José Soares).
Acabo de receber seu livro póstumo, organizado por seu filho mais velho Luiz Cristino Schmaltz ,ao qual intitulou "Noiva da Água" e sobre o qual apresentarei em breve, uma resenha.

Nenhum comentário: