sábado, 22 de março de 2008

Poetisas,Sacerdotisas do verbo :Andreia Donadon e Clevane Pessoa)








Ilustrações:
Andreia Donadon Leal



25/08/2007 18h25
Anjos, poetas e crianças...


Na foto, o sorriso de Andréia Donadon.


Quando estive em Mariana, foi uma delícia manter contato com as crianças que estavam na I Exposição Aldravista Internacional de Arte, na Casa onde morou o simbolista extraodinário Alphonsus de Guimaraens, hoje onde funciona o Museu que leva seu nome.
As crianças, pré-adolescentes e adolescentes que ali estavam , interpretaram poemas dos aldravistas da cidade primaz de Minas.
Conheci ainda a professora Sãozinha,feliz com o resultados obtidos.

Ontem , recebi da artista plástica Deia Leal (pseudônimo de Andreia Donadon , a poeta Cônsul de Poetas del Mundo naquela cidade ), um pedido angelical:

""Ola Cle,

Tudo bem??? A professora Sãozinha fará em Setembro, exposição de textos (poema) na escola particular onde leciona. Farão trabalho sobre ANJOS. A equipe pedagógica solicitou meus anjos negros p/ o evento. Gostariam também de declamar poemas sobre ANJOS. Eu tenho três, Donadon 2, Gabriel um e Sebastião um. Gostaríamos muito de ter 02 poemas seus ou 3 se possível que fala sobre ANJOS.
Como os meninos da escola Dom Viçoso conhecem você, seria interessante os mesmos recitarem. Só que tem que ser com certa urgência.
Podemos contar com sua colaboração?

Abraços saudosos,
Andreia Donadon Leal"

Bem , a conexão com a Internet, estava sem estabilidade , na área onde resido, aqui em Belo Horizonte, então, eu lhe disse que enviaria hoje.
Fui nos arquivos do Recanto das Letras ("ESCRIVANINHA") e retirei dois poemas:"Discurso para anjos Esfarrapados" e "Muito Tarde".Possuo vários versos que mencionam as criaturas angelicais, mas muitos, não adeqüados à faixa etária dos alunos.

Possuo uma série à qual chamei de Haikanjos, alguns em antologias e mandei para o evento em setembro.Sei que vai ficar uma beleza,penso mesmo em, se pouder, aparecer para assistir.

Então enviei o que pude :
clevane pessoa de araújo lopes escreveu:
-

Andreia, atendo a seu ´pedido e para mim, é uma honra e uma alegria participar das atividades escolares da infãncia e da adolescência de Mariana, a cidade primaz de Minas.Até hoje , "vejo" e ouço as jovens vozes a declamar poesias aldravistas e a cercar-me, em busca de autógrafos (adorei estar aí, na Casa Alphonsus de Guimaraens).
Desculpe-me não haver enviado ontem mesmo, mas a área onde resido está com prloblemas na conexão com a Internet).


Seguem algumas já publicadas, mas vou fazer outras, menores, e enviar a seguir.
Vou fazer algumas especiais para a criançada da Sãozinha.
Abraços cordiais;>)
Clevane

N:Posso postar no blog as suas, enviadas há pouco?

Indagações essenciais

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Meu branco anjo negro,
você veio da aurora cor de sangue
ou da chuva incolor?
Meu negro anjo branco,
você sabia que todo sangue é vermelho,
que a alma não tem cor?...


haikai

asas a dançar
sobre a neve branca e leve,
anjos transparentes...
Clevane pessoa (da série, haikanjos)




Discurso para Anjos Esfarrapados

1:DISCURSO SOBRE ANJOS ESFARRAPADOS

(clevane pessoa de araújo lopes)

Se o anjo sujo de asas transparentes, invisíveis exceto
pelas omoplatas salientes , as costelas que apontam
e os ombros pontudos, pede uma esmola
ou vende algo no sinal de trânsito,
veja seus olhos afundados em olheiras!
Não baixe os olhos,
não finja que nada vê:
é uma criança, apenas,
esfarrapada e triste,
ave sem penas, de quem nossa pena
deveria acordar os donos do poder,
o DONO DO PODER,,,
Se há remelas, mau cheiro, palavras inoportunas,
pense na idade, nas condições
que marcam essa pessoazinha,
estranha e assustada,
num momento em que a maravilhosa infância
lhes é sonegada, a alegria de viver,
roubada,interroompida, sustada
a inocência para sempre maculada...
Os que vendem aqueles artigos baratos
colocando-os no retrovisor do carro,
onde estamos sossegados ou não
ou estendendo-os insistentemente
quantas vezes apanham duramente,
são seviciados, humilhados,
se não lograrem alcançar a cota
estipulada...
Escuros debaixo do sol!Suados,cansados!
Compre ou dê alguma coisa:
se você faz sua parte,
que importa o resto?
Se seus filhos estão protegidos no lar
ou na escola,se estão no colo dos avós,
aconchegados à mãe, aninhados contra o pai,
lembre
que a esses anjos sujinhos muitas vezes sequer
a palavra aconchego foi anexada
ao vocabulário hostil e seco
do deserto da miséria...
Veja:não se trata de pobreza digna,
de filhos ajudando com certa alegria e ânimos
pais necessitados,desempregados:
às vezes, a paternidade é falsa,
as crianças estão ali alugadas
(sabia que há anjos vendidos para a luxúria,
para a esperteza,
para os aproveitadores de sua condição precária?)
ou às vezes seus pais perderam
a noção de dignidade
(talvez também já tenham sido meninos de rua
institucionalizados,abandonados)...

Ah, faça a sua parte,a /PENAS.
Qualquer dia , um deles é atropelado ou assassinado
e aquelas asas que você não viu
se estenderão
para os vôos da liberdade...
Se isso acontece, é para comemorar.
Se você ajudou,enquanto eram prisioneiros
de grades que ninguém via,
amordaçados com panos imundos
e transparentes, algemados
por decretos não ouvidos,
saiba que agora é para ter alegria,
pois estarão livres dessa
barbárie:mesmo que você lamente
a negação da vida
aos meninos-anjos,
AGORA É QUE VIVEM...

N:Mas...e os que assaltam
nos sinais e ruas escuras,
os que cortam usando cacos de vidro
quando não têm estiletes ou giletes,
os que são ou trabalham para marginais?...
Amigo, essa é outra história,
que o bardo de coração arranhado e sangrante, falará depois...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Publicado originalmente no site "Boneca de trapo (de Cath Roos) e depois também Recanto das Letras em 09/04/2007,além de outros sites e blogs.
Código do texto: T443410

2:Muito Tarde:
____________________________________________________________________

Muito tarde
Clevane Pessoa de Araújo Lopes



Como responder ao olhar faminto
do anjo sujo
que pede esmolas tão naturalmente ,
à menos-valia habituado?
Como não pensar no olhar de animal ferido
quando escorraçado,
qual se fosse cão sarnento,
portador de vírus letal?
Como conseguir dormir
depois de ver o anjinho esfarrapado
apanhar de algum adulto
que o escraviza ou ser torturado
por um menino maior
somente por não ter logrado
conseguir a esmola da pessoa
que nem o olhou ,ao ter passado?


Como não adivinhar as asas transparentes
nas omoplatas aparentes
das carnes magras e sujas?...

Às vezes, só depois de ter negado
uma ajuda necessária,
por medo, por negar-se a colaborar
com os aliciadores de menores
ou com pais desnaturados,
é que se pode compreender
que o Amor não foi exercitado,
pois devemos amar, 'apesar de' e não 'porque!'
A lágrima às vezes teima em molhar
o travesseiro de quem dorme
em lençóis de linho ou seda...
O olhar da criança nos persegue
o sono e um grito sem tamanho,
sufocado na garganta,
irrompe o espaço da madrugada...
Mas então, pode ser tarde:
o pequenino já foi surrado, seviciado ou maltratado
ou talvez tenha mesmo virado
um anjo de verdade
ao ser atropelado, assassinado...
E você não fez nada.
Nem eles...
Eu também não...

Poema hospedado no site www.bonecadetrapo.com.br.pela Poetisa Catherine Roos e publicado na Antologia Sonata Poética,Anomelivros, BH-MG em abril/2005
.
clevane pessoa de araújo lopes
Publicado originalmente no Recanto das Letras em 17/05/2005
Código do texto: T17577
____________________________________________________________



E, da Andréia , recebi, além de seu significativo poemas sobre anjos, os demais, que não posso deixar de publicar (com a devida licença da autora):

POESIAS: Andreia Donadon Leal





ANJOS


Anjos caem do céu
:
negros
brancos
pardos
amarelos
e
anunciam
:
no céu
na terra,
todos filhos de Deus!

Não sou Lagartixa
Disseram que sou esquisita,
isto sei desde menina...
De tão esquisita
não pareço
nem uma lagartixa.
Sou tão esquisita
que
lagartixa
é
mais bonita.
Talvez quiseram dizer
que sou feia
sem graça
sem jeito
e
esquisita.
Sou esquisita mesmo
e
não pareço lagartixa.

___________________________________________

Viver Eternamente


Se falasse a língua de deus
minha alma não se perderia
no lixo cósmico.
Quisera viver inutilmente
mais
e
mais
e
mais,
ainda exausto de viver.
Esta exaustão infinita
escrava
perpétua
viciada
:
viver
e
rastejar
meu corpo gelatinoso
pelas calles pedregosas,
mais
e
mais
ainda mais....
Meu corpo se decompondo,
esta decomposição lasciva
de pele desbotada
frisada de pregas
e
flácida idade.
Meu clamor será ironizado
esquartejado
:
viver mais
e
mais
e
ainda mais
e
ainda muito mais...
______________________________

Flor de Laranjeira



Não recolho
mato
erva
e
capim
no fundo do quintal.
Destroçaram
verde
cor-de-rosa
violeta
e
minha flor de laranjeira.
Meus olhos tristes
miram
as folhas secas
do mato
da erva
e
da flor de laranjeira.
Verde desbotou
cor-de-rosa desapareceu,
restou
:
sépia misturado
com vermelho ocre.
Só no fundo do quintal
um galhinho tímido
de flor de laranjeira
camuflado.

_______________________
O Fogo da Vaidade



Mortais!
Danados mortais.
Que rei sou eu?!
Impetuoso,
acumulado de ira intelectual
desacordado de realidade,
carne e bife tirado da unha
do cotovelo destroçado.
Que rei sou eu?!
Enviesado nas minhas ocres palavras
em meu castelo de paredes mofadas
enclausurado em versos fora de moda.
Que fogo intenso
feito brasa chapada
não queima,
dói
e
corrói lentamente
minhas entranhas
e ossos comidos de osteoporose
pelo calor da idade?
Minha clausura não me basta,
os out-doors da cidade
picham caras de santo;
não santos esculpidos
pelas mãos de Aleijadinho,
não santos pintados
nas naves das igrejas
pelas mãos de Athaíde.
Eu, na minha clausura
escondo meus defeitos
muerto e apagado
feito fumaça que levanta vôo
na brasa que queima
minha alma!
Que rei sou eu
que evapora junto
com as cinzas da morte?!

_________________________________
Portal do Céu



Voei sob a imensidão nebulosa do céu
em corredor veloz da pista curva.
Insegura garupa impossível da moto-avião
faz piloto em grand prix
ladeando a Serra do Caraça.
Parecia carregar-me para cantar com anjos
acordes finos em disco voador de ouro,
Jesus Cristo a reger nosso dueto
e o mundo inteiro de platéia.
Desci, enfim, em nave de cristal:
atordoada na cabine já despressurizada,
a deslizar na estrada apagada pela bruma...
Segui a velocidade do vento,
ao lado passam velozes rejeitos e quaresmeiras
no alto um sol teimando vencer a bruma.
De repente à minha frente
surge piloto veloz em competição:
sem retrovisor tomba o olhar para trás,
zune em ziguezague desafiador,
acelera à frente e torna a tombar o olhar,
à frente acelera rompendo a bruma
e a moto-avião some nas nuvens brancas
em adeus ao mundo daqui.
Minha nave pára rente ao paredão de pedra.
O piloto batedor ressurge e sorri...
Reconheço o portal do céu.

Zumbidos


Tela “La Cabalgata de los Zombies” de Antonio Gualda
http://gualda.galeon.com/id134.htm

Não há luz
na calada noite preta,
vozes não há...
Há sombras vagando
(câmera lenta)
s o l t a s
d e s p r e n d i d a s
insanas.
Zumbidos
zombam ouvidos,
mais fortes
ecoam
zumbidos zombando de mim.
http://www.jornalaldrava.com.br/pag_poesia_andreia.htm

Aproveitem e conheçam,no lindo site do Jornal Aldrava , mais de Andreia,muito mais em Letras e Artes no endereço acima)
Clevane




:

Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 25/08/2007 às 18h

segunda-feira, 17 de março de 2008

A Poesia Feminina Pede Passagem-Antologia Mulheres Emergentes




Imagens:Capa do livro

A Poesia feminina pede passagem


A Poesia Feminina tem um quê diferenciador que a torna sempre diferente da poemática masculina, mas, ao mesmo tempo, prova que as mulheres são capazes de falar de forma especial sobre as coisas deste velho Mundo mas também as da alma, as do cotidiano.São multifacetadas e têm um olhar agregador.
O escritor e poeta mineiro de Divinópolis, Lázaro Barreto, sempre escreve que "o erotismo feminino tem características muito próprias".É mais sutil e menos pesado.Fica evidente que sabemos o peso exato da tênue linha entre o que é erótico e o pornográfico.Poucas ousam atravessar essa fronteira, embora haja mulheres, quais Leila Miccolis e Maria Limeira (doce "jornalista paraibana"), que tenham a ousadia deliciosa de abrir por inteiro o gineceu de sua floração poética.
Desde Safo - banida para a Ilha de Lesbos - até aos dias hodiernos,sem esquecer Gilka Machado, Pagu e outras igualmente fortes e belas,fica evidente que esse erotismo é antigo, mas se antes fôra tolhido, camuflado, amordaçado, hoje expande-se qual flor aberta ao calor do sol que se entreabriu na madrugada aos carinho do orvalho, o Verbo.

Tãnia Diniz,a organizadora, de há muito escreve haikais fortes e temperados.Líria Porto surpreendeu há muitos com os poemas de seu blog.Não foi à toa que coloquei um de seus poemas picantes em meu blog "Erotíssima",que agrega a verve feminina mas também a masculina e meu próprio gosto pela sutileza dos versos eróticos.Aliás, visitem-no:
(http://www.erotissima.blogspot.com.br)
Bem , a poesia feminina pede passagem.
Andréia Donadon transcende a sensualidade com as cores de sua alma que também habita Deia Leal, a artista plástica que é,Regina Mello é detalhista e delicada ao expressar o sensual .Neuza Ladeira é rasgante e assume a feminilidade,qual em seu "Quarto Dormir, Quarto de Pensar",selo Urbana/RJ, no prelo, prestes ser parido, ou
perola-se, em "Opúsculos" , seu livro de estréia(selo anomelivros), além de ser
fantasticamente incisiva em "Os Comedores de Sonho", em fase final de editoração, e que tive a responsabilidade de prefaciar.
Iara Alves , que conhecemos já de D'Versos , faz das vivências femininas um grito libertário.A jovem Karina Campos Araújo, filha e sobrinha de poetas, assume para si, em TOTEM , o tracejar dos traços femininos.

Ainda não tive o livro nas mãos, mas estou ansiosa para conecer as demais poetisas (gosto desse feminino , mais que de poeta.Conforme digo num poema, "poetisa rima com sacerdotisa".Do verbo.



Abaixo repasso a página do Jornal Aldrava, a respeito do lançamento da antologia Mulheres Emergentes, organizado pela editora e haikaista Tânia Diniz.
Sinto-me nela, em muito boa companhia, conforme citei acima:além da Governadora do inBrasci em MG,Andréia Donadon (que em abril será empossada na Academia de Letras do Rio de Janeiro), também a jornalista Brenda Marques Pena(Presidente do Imersao Latina e baterista da Banda Caution), a aquarelista Neuza Ladeira,Regina Mello(Diretora do MUNAP e coordenadora do Galeria da Árvore),todas Poetas del Mundo e Cônsules,Iara Alves,Conceição Parreiras Abritta (da Academia Municipalista Feminina de Letras em BH e Presidenta da UBT/BH), Edinéia Alves (Betim), de quem tive o prazer de prefaciar seu "Beijo de Lua",Karina Araújo Campos, minha linda norinha ,Administradora do "Semear Saúde" e estudante de Psicologia na FUMEC,Líria Porto (que comigo também está no D'Versos, antologia em prol do "Alô Vida", conhecida pelo erotismo de seus versos e pela linguagem sugestiva e sintética),Stella Machado(de Juiz de Fora, autora de "Galeria",selo ME)e as outras mulheres talentosas, em breve, as lerei.E poderei dizer algo mais a respeito.
Confira as autoras no rol abaixo!

O pré -lançamento será no Letras e Ponto, na Savassi, dia 24/03 às 19 horas 9veja o convite).O espaço foi cedido pela poeta Dagmar Braga, também integrante da antologia.

Um lançamento , a meu convite,será no restaurante D.Preta, no Ipiranga, em data a ser marcada.Nessa ocasião, Brenda Marques e eu estaremos conjuntamente, lançando também a antologia "Mulheres no Banquete de Eros", selo aBrace,Movimento Cultural Brasil-Uruguai,que represento em MG.Também o lançaremos em maio, em Natal, RN, onde acontecerá o Congresso Internacional de Poetas del Mundo e Brenda os levará ao Chile .Mas antes, dia 27, estará no Sarau do Centro de Cultura da Lagoa do Nado (Fundação Municipal de Cultura),em performance com poemas do "Mulheres no Banquete de Eros. este já foi lançado previamente na grande Feira Internacional de Livro em La Habana, (Havana), Cuba, neste mês, pelos poetas e editores Roberto Bianchi(UY) e Nina Reis (Brasília,DF, Br).

Tânia Diniz também informa que
haverá outro momento no Terças Poéticas, sob a curadoria do Poeta Wilmar Silva.

Nossa querida amiga Leila Miccolis , poeta e atriz, divulgadora cultural (leia-se Blocos Online) e a Profa.Constância Lima Duarte, da UFMG, tecem abaixo seus valiosos comentários a respeito da antologia confiram.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Poeta Honoris Causa pelo CBLP e Diretora regional do InBrasCi em Belo Horizonte.
- Mostrar texto das mensagens anteriores -


As autoras:
ana carol / auxiliadora de carvalho lago / andreia donadon leal - mariana, mg / beatriz amaral -sp / brenda mars - brasília, df / clevane pessoa de araújo / conceição parreiras abritta / dagmar braga / débora novaes de castro - sp / djanira pio-sp / daris araújo - m claros-mg / edinéia alves/ eliane accioly fonseca - sp / elizabeth gontijo / elza ramos amaral - sp / france gripp / graça graúna-recife-pe / graça rios / iara alves / ivete walty / karina araújo campos / leticia naveira - sp / liria porto / lívia tucci / lúcia daniel-paris-frança / lúcia serra / maria lourdes hortas-recife - pe / marina silva / micheline lage- timóteo-mg / mônica anspach - sp / nazareth fonseca / neuza ladeira / raquel naveira - sp / regina mello / silvana pagano / silvia anspach-sp / simone neves / stella machado-juiz de fora-mg / tânia diniz / tânia pagano / vera casa nova

Comentários de Leila Miccolis,Constância Lima Duarte e Tânia Diniz.

"Mulheres Emergentes não nasceu hoje. Acompanho o trabalho do ME desde o início, e talvez seja por esse elo de ligação que eu tenha sido convidada a escrever sobre ele, e que eu esteja aqui-e-agora me desempenhando de tão agradável tarefa.
Impossível, porém, enfocar o meticuloso trabalho do ME, sem primeiramente falar de quem o criou com toda dedicação, garra, coragem, resistência e amor à literatura: sua mentora e editora Tânia Diniz. Escritora sensível, Tânia muitas vezes deixou de lado a própria carreira, para levar adiante seu projeto ideológico de abertura de espaços, o que conseguiu não só através dos autores que publicou, como também pelo formato escolhido da publicação inicial – cartaz –, que possibilitou uma maior penetração em exposições, lugares públicos (praças, teatros, colégios), e, emoldurado como painel ou quadro, também em escritórios e salas-de-estar. Leia-se: em paredes nunca d'antes navegadas pela poesia.
Logo após, acompanhando seu tempo histórico (1989), Mulheres Emergentes, em época de abertura política, ampliou horizontes do mercado cultural, mantendo-se fiel aos seus alicerces, sem cair na tentação de desviar-se para construções mais fáceis: até hoje, mesmo com parcos recursos de patrocínios, e com todos os obstáculos encontrados pela frente, mantém sua integridade, retidão, e rota firme, tendo reconhecimento inclusive fora do país, através de suas quatro antologias internacionais.
Posso dizer, sem receio de errar pelo excesso, que Mulheres Emergentes alcançou um feito nacional raro: obter sucesso, sem descaracterizar sua feição originária e original. Entretanto, o que me sensibiliza e me toca ainda mais profundamente, é o ME orgulhar-se de ser uma Editora Alternativa (exibindo tal característica em seu nome), em meio à quase totalidade de editoras de médio porte, que, exclusivamente comerciais, valorizam muito mais o lucro do que a literatura que veiculam. "Alternativas", para quem as vivencia conscientemente, significa solidariedade, raça, interatividade, criatividade e uma postura diferente da usual, de "querer levar vantagem sempre, em tudo".
Por tantas e todas essas diferenças, Mulheres Emergentes se distingue, se sobressai no panorama cultural do país nesses dezoito anos de atividades, oferecendo a doçura de seus belos frutos e o abrigo de sua frondosa copa à Árvore do Saber.
Leila Míccolis
Escritora de livros, tv, teatro e cinema, e co-editora de Blocos Online.
***
"Mulheres Emergentes chega à maioridade
Desde quando surgiu, no finzinho da década de 80, Mulheres Emergentes foi um sucesso. A novidade de seu formato tipo cartaz contribuiu para destacá-lo das demais produções e lhe dar um destino diferente após a leitura: ao invés de guardado em estantes, era exposto e cumpria, assim, seu destino de 'mural de poesia'. E tornou-se comum encontrá-lo em vitrines de livrarias, emoldurado nas residências, fixado em paredes de bibliotecas e faculdades. Como predominavam poemas que falavam abertamente de amores feitos de carne e paixão, logo ganhou o apropriado subtítulo de "o sensual em cartaz". Nos anos 80, não custa lembrar, as idéias feministas estavam em pleno vigor, e reafirmavam que as mulheres deviam viver plenamente suas vidas e sua feminilidade. Além das muitas vozes femininas, inúmeros homens sensíveis aos novos desejos, e ávidos por um novo espaço, também acudiram ao chamado.Mas Mulheres Emergentes era muito mais que apenas um mural de poesia. Era, na verdade, um projeto de vida de sua idealizadora – Tânia Diniz, a mineira de Dores do Indaiá, que desde então tem seu nome inscrito em nossos corações e em nossa história cultural. A luta empreendida para viabilizar cada edição, a busca incessante de apoio junto aos poderes públicos e privados, e o apelo, carinhoso e firme, para que mais e novas autoras e autores partilhassem de sua busca da Poesia, é sem dúvida louvável. Tânia criou um espaço mágico que aglutinava poetas, independente de serem conhecidos ou principiantes da arte literária, e que a cada edição ampliava seu círculo, alcançando mais e mais pessoas, novos países, e uma repercussão inusitada. Outros produtos surgiram na esteira do mural – como a editora, os concursos internacionais, os calendários, prêmios, antologias, coleções –, sempre com a competente marca Tânia Diniz.
O título – ME – foi tomado de empréstimo ao livro de uma conhecida psicoterapeuta americana de enorme sucesso na década de oitenta. Natalie Rogers acreditava no poder da manifestação artística como parte do processo terapêutico, e sua obra promovia o auto-conhecimento através da liberação criativa e emocional. E foi bem isso que Tânia Diniz realizou através das edições do ME. Ao estampar – em alto e bom som – tantas promessas literárias, tantas confissões da intimidade, o Mulheres Emergentes consolidou a auto-estima de jovens poetas, e liberou, pela verbalização, muito da sensualidade feminina. Para Tânia, a poesia se encontra em todo lugar e em todas as pessoas, não importa se professor, estudante, jornalista, advogado, dona-de-casa, enfermeiro ou médico; muito menos a opção sexual ou a cor da pele. Só importa o poético, a busca da Arte, o encontro com o Belo.
Para comemorar os 18 anos de seu projeto, a editora nos brinda agora com esta antologia que reúne uma representativa amostra de poetas e contistas garimpados ao longo dos anos, cuja ênfase continua sendo o feminino, a palavra bem lavrada, o delicado traço das ilustrações. Nós, seus leitores e leitoras, agradecemos.
Constância Lima Duarte – Profa. UFMG"
***
"Alegria e orgulho foram as palavras que alimentaram, e alimentam, minha paixão pela Arte e a Poesia nesse tempo todo em que me dediquei integralmente a elas. Desde o momento em essa paixão superou a timidez que a oprimia, pude perceber melhor que minha vida sempre se confundiu com a poesia, e deixei-me levar por ela. E tal foi a entrega que, imediatamente, comecei a criar de todas as maneiras e com o grande objetivo de atingir o público, de atrair novos olhares, de criar vieses que mais seduzissem, de conquistar novos adeptos. Publiquei poemas, contos, livros pessoais e de outros autores, criei o mural poético Mulheres Emergentes (1989) e sua conseqüente editora, superei todos os obstáculos inerentes – e continuo superando – e obtive sucesso, vitórias maravilhosas, até as inesperadas. E com tudo isso, veio-me o desejo de festejar, e organizei Concursos Internacionais e inúmeros outros eventos, inclusive algumas Coleções de poetas. E agora, essa Antologia ME 18, com a bela capa da mineira artista plástica Selma Weissmann. Assim, o objetivo da Antologia é agradecer e comemorar. Inclusive a vida, já que venho de uma grande vitória na luta pela saúde. E o apoio de todOs os autores (sim, porque os homens são grandes incentivadores e também participantes do mural ME), colaboradores sem os quais meu trabalho não teria sentido, e fazer dela uma pequena mostra dos objetivos que sempre nortearam minha paixão: publicar poetas conhecidos, contemporâneos ou não, descobrir poetas novos, os inéditos, os tímidos ainda na gaveta, ilustradores, enfim, todos os artistas que me permitem esse " garimpo" e seguem comigo as trilhas que buscam o público.Para maior felicidade, essa Antologia ME 18 traz um fato inédito: três filhas se juntam 'as suas mães poetas no ofício da escrita! São Raquel Naveira e sua Letícia, Elza R. Amaral e sua Beatriz, e eu mesma, Tânia Diniz, e minha amada Ana Carol, a primogênita, que começa a se aventurar nos minicontos. Outra coisa, é o fato de mostrar a diversidade do ME e assim teremos poemas, pequenos contos e ilustrações.E uma amostra mínima , do mapa nacional e internacional, de onde circula nossa poesia ME!
Então, maioridade conquistada, um brinde 'a longa estrada que se descortina!
a editora"

Fontes dos comentários e da lista de autoras:Jornal Aldrava,Tânia diniz.

Pré-lançamento ANTOLOGIA ME 18

DATA: 24 DE MARÇO DE 2008, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

HORÁRIO: 19h

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

"The Little Hunter", de Analua Zoé, inspira poetas.


Sou convidada a aprticipar de uma bela ciranda, onde a inspiração deve partir de uma tela , da Analua Zoé...

Interessante verificar o quanto mil poeta haja, mil modos de dizer as coisas...Por isso, menosprezo os covardes plagiadores:a criatividade é ilimitada e renovável, peculiar e bela.

Essa ciranda, está originalmente, em "ECOS DA POESIA"(coordenado por Victor Jerônimo e Mercedes Pordeus, a quem a artista cedeu a imagem, para esse fim.Eis os produtos poéticos e seus autores:


MENINO DE RUA

É preciso lutar,
É preciso ter garra,
É preciso viver!

E o pequeno herói
leva pra casa o produto
de seus esforços

Há irmãos, irmãs
e m~e doente
esperando por ele...

É preciso lutar
todos os dias,
semana à semana.
É preciso ter garra,
não temer o escuro da noite,
nem o sol do meio-dia.

A vida é presente de Deus,
o viver é sabedoria do homem.
É preciso viver !

Maria Luísa Amorim.




CRIANÇAS: UMA REALIDADE
De: Reinadi Rodrigues Sampaio (eu flor-caminho só).
Para a Tela: THE LITTLE HUNTER / ANALUA ZOÉ


Falar de crianças sorrindo?!!
Felizes?!! Amadas?!! Estruturadas?!!
Onde ficam nossas consciências?
Ao tentar camuflar a dor,
A vergonha, a lama, que envolvem estes seres
De sorrisos estampados nos lábios,
Num olhar triste, vago,
Quando se deparam com vitrines
De seus sonhos enfeitados?
De carrinhos manipulados
Na credibilidade dos seus desejos e anseios,
Que percorrem livres nos pensamentos
Caminhos sem obstáculos: o mundo das fantasias.
De bonecas ricas, bem vestidas,
De cabelos loiros, fartos.
De dentes perfeitos; sem caries.
De aviões que os levam de um ponto a outro
Dos seus universos imaginários,
Num vôo das ilusões... Das perfeições
Vôos que se tornam frustrante,
Pois ao aterrissarem, a realidade é outra:
Um mundo em desequilíbrio
De máquinas perfeitas, manipuladas por homens,
Que elas não escolheram e que as fazem, crianças excluídas.
No entanto, no contexto da dor,
Da fome, do frio,
Dos maltratos, da miséria,
As matem inseridas.
É muito fácil fechar os olhos da alma
E falar de crianças sorrindo,
Em casas com mesas fartas,
Acolhidas em camas limpas
Cercadas de amor dos pais
Irmão, “Tios” e “Padrinhos”,
Sem pensar nas nossas crianças,
Nas favelas das grandes cidades,
Envolvidas no trafico e trafego,
Das drogas nos viadutos, nas ruas,
Nos becos imundos dos baixos meretrícios
Onde não só as mães se “vendem”
Em troca de um pedaço de pão.
São mães “compradas” nas eleições,
Por um “vale gás”,
“Vale escola”,
“Vale medicação”,
“Vale cesta básica”,
“Vale transporte”,
Vale corrupção.
Vale submissão.
Vale escravidão...
Ó Crianças!!!
Crianças do mundo inteiro!!!
Crianças do meu País!!!
Busquem as vossas liberdades,
Naquilo que lhes é inato ou adquirido (se conseguirem):
Vossas sabedorias,
Vossos maiores legados,
Pois não existirá corrupção capaz
De submeter vossas consciências,
Ao submundo das ilusões...

Cruz das Almas, 23/11/2007.




POBRE MENINA !
Socorro Lima Dantas

Diante de do palco da vida
levantei as cortinas,
viajei pelo túnel do tempo,
desnudei a alma !
Revivi a minha menina-criança,
senti o sabor do tão marcado passado
da pureza,
da inocência,
das incertezas e interrogações.
eis a minha vida !?
O que fazia a minha criança naquele tempo ?
Por que eu me sentia tão desarrimada,
indecisa, melancólica e tão só,
no meio de uma estrada...
Diante da vida que estava a prosseguir ?
Ah, esta era a minha criança valente !
Seguia diante do desconhecido,
descobrindo rios e uma floresta quase encantada,
onde só distinguia o céu azul, e a vontade de avançar...
Pés descalços, roupa amassada, olhar cabisbaixo,
fui caminhando em meu sonho infantil...
Acordei, com a respiração ofegante,
tudo não passou de um sonho de criança,
que carregava as incertezas e o medo do amanhã,
diante do palco da vida que estava a surgir !

Pobre menina !

Recife/PE
22/11/2007




MENINO PINTADO A ÓLEO
Luiz Poeta
Luiz Gilberto de Barros
Às 23 h e 1 min do dia 23 de novembro de 2007 do Rio de Janeiro,
especialmente para " As letras da Pintura "do Grupo Ecos da Poesia "



Não sigas os teus olhos, menininho...
Com eles só enxergas solidão,
Miséria, fome e medo no caminho
Que pisas, distraindo o coração.

Cresceste, menininho... em tristezas,
Em mágoas, sofrimentos, amargura,
Teu mundo é repleto de incertezas,
Mas teu olhar é feito de ternura.

Tantos meninos dormem numa tela
Pintada em tinta a óleo ou aquarela,
Mas suas formas ganham movimento,

Quando, dentro da tinta colorida
Os olhos de um menino ganham vida
Quando há em quem os olha... sentimento.





DIAMANTE SOLITÁRIO

Na poeira da estrada se vai o poema,
na poeira da estrada vai o menino,
diamante solitário,
moribundo esquecido do mundo.

Discorre o poeta mergulhado em tristeza,
duas aves em suas mãos,
serão levadas a sua mesa,
mas não há mesa, nem cenário,
não há comentário,
somente um céu que não é azul
e o diamante solitário
como que absorto em sua própria tristeza,
sem as malícias cotidianas, nem as manobras mundanas,
ecoa seu pranto calado, por entre as brumas
da solidão.

Diamante solitário,
sem pecado, nem perdão, a pátria o renegou,
aos caminhos da solidão,
e seu olhar de tristeza, ainda espera
e esperança, na escola, na cidade, nas vitrines
onde brilham os diamantes e outras variantes.

Paulo Cézar Santos Melo – poeta.

Brasileiro, Baiano de Cipó-Bahia, autor dos Livros de Poesia: UM POUCO DE TUDO(1998), IMPRESSÕES DIGITAIS (A Publicar), ESTALOS NO SILÊNCIO (A Publicar)

(dedicado a " The Little Hunter" de Analua Zoé, no cenário As Letras da Pintura Nº 2 do Grupo Ecos da Poesia)




Inocente Caçador


O que indagas, meu menino, com este ar de compaixão?
És ingênuo, nada sabes, eu te contarei, embora, em vão.
És órfão de mãe viva...cujo nome é Vergonha, irmã da Decepção
Ela te largou ao abandono, assim, sem nenhuma explicação..
Foi-se ao encontro do teu pai, chamado Desamor, irmão da Incompreensão

Desta família, descendes, portanto, sem solução.
Enderêço, não tens...estás em todos lugares...
Como a Omnipresença Divina, pedindo por atenção
Se possível fosse, Ele te levaria, para a eterna mansão...
Mas deve ter um propósito, pois sabe de tua consternação.
Refletes, aos olhos do mundo, o resultado da ganância, do egoísmo,
tua imagem nos induz à profunda reflexão

Tenho a dizer, que possues um sem número de irmãos
Nascidos dos mesmos pais, com a mesma tradição
Crianças que em nosso mundo
Sofrem, como você, o crime de ter nascido
Pena tão dura... e sem redução
Meu amado menino,
Deixe que eu te diga
Por pior que seja, prossiga ...
Breve encontrarás o caminho que o levará ao paraíso
E lá encontrarás o carinho, o amor e a alegria, a te esperar com um sorriso
Dizendo ...seja bem- vindo, ....filho do Desamor !

Maria Luiza Bonini
São Paulo - SP - Brasil




Poema

caem
as palavras precisas do poema
perante a tela
e muda, muda, muda
é a cor do sonho.
perco as palavras
na tristeza inscrita
no anel dos olhos
que teu silêncio grita.
meu menino
de gesto puro
de fresca desventura
que mata caça
caça mata no bosque dos medos
onde o céu caíu
sem advinhar o teu nome.
meu menino
mata caça
caça mata na sílava visível da fome.

Ísis ( Teresa Gonçalves)






DOCE VIVER
Neida Wobeto


Busco a pureza perdida
na estrada do viver.
Quero a beleza da alma pura
e só percebo a solidão do Ser Humano.
Nossos sonhos
perderam-se na curva do sonhar.
Perdi a inocência
e procuro-a no meu semelhante
e só encontro a necessidade
do devir humano
que quer apenas voltar ao SER.





PEQUENO CORAÇÃO CAÇADOR



Na face miúda e sofrida
um olhar de esperança,
trilhando as estradas da vida
caminha um coração de criança.

Tão frágil e inocente,
de pés descalços sobre o chão,
segue em busca de um futuro decente
e procura a paz para sua Nação.

Pequenino e mal tratado,
vai caminhando o pequeno caçador,
com o seu corpinho despojado
exposto à fome e à dor.

No peito, as marcas da dor
machucam seu pequenino coração,
que sente fome de amor
e luta por um pedaço de pão!

Socorrinha Castro ( Florzinha )
JP - PB - Brasil




O PEQUENO CAÇADOR
Efigênia Coutinho

A vida não é completamente boa, nem
completamente má! Há um moleque que
todos os dias vai caçar para sua fome matar!
Ah! Deus proclama para anjos entoarem!

Seus olhos em pranto na mão gelada
carrega seu trunfo, querendo dar adeus
ao mundo da dor que lhe prende a vida!
Numa tímida oração, suplica por Deus!

Ó Deus Cristão, triste e cruel verdade,
acolhei está imagem de piedade...
Aquele olhar tremendo, fitando o Futurecer!

Não perscruteis o caçador se o seu dever
a mando foi cumprido. Na tela pintada por
Analua Zoé tentei compor, também eu,o meu dever.

Novembro 2007

Poema para o evento
" As Letras da Pintura", N-2





MENINO CAÇADOR
Paulo Gondim
25/11/2007

Corre o tempo, corre o vento
Corre a nuvem, corre o mar
Corre o menino no mato
Corre o menino a caçar

A vida parece ingrata
Corre o menino da fome
Corre o menino na mata
No medo que lhe consome

Na duvidosa corrida
Tanto corre, como indaga
Por que tanta diferença
Tanta guerra, tanta praga?

E o tempo do menino
Já não passa devagar
Tão cedo se atira ao mundo
Pois é preciso caçar

E o menino caçador
Só tem tempo pra caçar
Não tem sonho, não tem vida
Nem sequer pode brincar...





Humanizar...


Oh! Olhares que vida da Natureza cega
Com ciscos da incompreensão enegrecida
Despida pelo sol que a inverdade agrega
Crueldade nas retinas da alma infanticida.

Algozes dos viveres que a pena segrega
Fileiras esquálidas da miséria combalida
Do ser dito famulento que a dor prega
As modorras inglórias. Bradarei a vida!

Que a aurora faculta mortificar noite dia
Cegos que se escondem enganando porvir
Das luzes agregadas nas hastes da Poesia.

Haveres computando versos tende argüir
Aos esconsos que hibernam na desarmonia
Refloresça amor!Senso de a aura ressurgir.

Deth Haak
“A Poetisa dos Ventos”

Deth Haak
Cônsul Poeta Del Mundo – RN
SPVA-RN
AVSPE
UNEGRO





Menino Bonito


Menino Bonito que está ferido
Rosto doído de sonho perdido
Teu ar de sombra não vê o sol
Anda só, de mãos sem paiol.

O rosto cansado, velho, surrado,
Marcado de dor e de atroz descaso
Vazio vaso, pé descalço, de aço,
Pisa o cansaço, lambe o mormaço.

Da tarde vermelha de chão,
Sem abraço, sem nexo só leva inchaço.
descompasso de pão, feijão e nação;
Não tem surrão, tem muita precisão.

Ah! Menino Bonito, em formação.
Perdoa o pelotão de ouro frio.
De vazio coração, olhar tão oco.
Pouco lhe estende a mão no aniversário.

Menino dessa estrada poeirenta
Violenta; sua vestimenta é dor.
Clamor, de tristeza o suor degusta.
E o nada, o sal, pede apenas amor.

Menino, belo Menino Bonito.
Faço desse escrito, alerta, o meu grito.
E te felicito a coragem e a vida
dormida na esperança de mudança.

Marlene Vieira Aragão

www.marlenevieiraaragao.prosaeverso.net

mvieiraa@ig.com.br

mvieiraa@marlenevieiraaragao.prosaeverso.com.br






DESALENTO ...
Nídia Vargas Potsch

“Tô cansadu!”
“Mas tem que andá mais légua e meia”.
“Meus pé tão dueno, tô cum fome!”

Assim vai o pequeno menino caçador,
cansado da lida, da mesmice,
com desânimo nos olhos,
que suplica por piedade, socorro,
mas ninguém acode ...
O que sabe ou entende ele da vida?
Segue o rumo traçado carregando a poeira
de mil anos, pés doloridos, feridos, desalentado ...
Uma criança que amadureceu sem crescer,
com bolhas nas mãos, calo nos pés,
bolhas, calos e poeira vermelha na alma infantil ...
Sacrifícios lhe são impostos
e ele os cumpre sem indagar o porquê.
Sabe apenas que têm que fazê-lo,
pelos outros da família e por ele próprio ...
Um pequeno caçador valente, guerreiro!
E se lhe perguntam o nome, logo diz:

“Quem? Sei não sinhô” ...
“Meu nome? Menino!”
“Me chamam de Menino!”
“To levanu pro mode da gente cumê” ...

Rio, 25/11/2007

www.ebooks.avbl.com.br/biblioteca2/nidiavargaspotsch.htm





A Estrada da Miséria
(Janieth Costa Monteiro)


No fundo o azul
Misturado ao verde da mata
Ao vermelho da Terra
Cheia de Pó
E, também, de dó

Por Deus,
Tenho certeza,
Que essa pintura
Quizera ser de outra forma
Sem o pó
E sem o escuro da dó.

O amargo
Num rosto de menino
De corpo criança
Coração de um anjo
Que tem a esperança
De saciar quem tem fome.

Se nessa mistura do artista
Tivesse mais cores e brilhos
Pra iluminar essa estrada
Pra esse menino
Que ta coberto de pó
E, também, de dó.

Pra esse menino
Cheio de força
Que pensa na mãe
A espera do alimento
Arrastado pelas mãos
Pra colocar na boca
De seus outros irmãos


Mesmo que esse menino,
Cheio de força
Encontrada na fome
E na miséria,
Não importe com a estraa
Que é coberta de pó
E, também, de dó.

Mas esse menino acredita
Que, um dia,
Essa mesma estrada vai virar
E levá-lo,
Junto com sua família,
Pra um outro lugar
Onde não exista
Esse pó
E nem essa dó.




O PEQUENO CAÇADOR
Adelina Velho da Palma


És tão pequenino
Criança é assim
Mas ficas estranho
Nesse teu tamanho
Caçador mirim!...

És tão pequenino
rude querubim
Mesmo emancipado
Sujo e esfarrapado
Olhas para mim…

És tão pequenino
Mas já sabes tudo
O que é importante
E com desplante
Vejo e não te acudo...

És tão pequenino
Mas caças sem medo
Fazendo-te à vida
E eu foragida
Passo e não sucedo…

És tão pequenino
Mas manténs-te firme
Pronto a atacar
E sem me tocar
Consegues ferir-me…

És tão pequenino
De saber medonho
Vences o perigo
Mas teu inimigo
É teu próprio sonho….

És tão pequenino
Mas és bem maior
Que o mundo onde existes
E em teus olhos tristes
Lê-se um vencedor




SEXTILHAS DA SOBREVIVÊNCIA


No seco caminho de terra
Só o triste e maltrapilho menino é molhado
Pois a fome e a desolação entraram na cratera
E o futuro do crescimento permanece ilhado
Na esperança da caça na primavera
Ou na proteção quente de um forte telhado

Pega menino, teu alimento
Que caiu do céu como chuva passageira
Quem sabe, crescendo, teu pagamento
Será encontrar comida na lixeira
Ou talvez, com sorte e maior fundamento
Possa sair desta triste ribanceira
Que tu insistes em sobreviver.

Alma Collins




O presente


Crianças que cedo precisam
contribuir, prover o lar,às vezes sem teto, pelas estadas,
ás vezes quase nuas, coitadas,
expostas a calor e chuva,
brincam talvez de adultos...
Mas ser grande requer tanta luta,
e as armas das crianças são apenas
fantasias de ser, estar,conseguir...

Certo dia, vi um sorrido maroto, orgulhoso e cansado também
de um menininho, ao entregar à mãe
duas galináceas
surrupiadas de algum quintal:
-"Olha mãe, para a canja do seu resguardo".
A mãe, barriga em plenilúneo, sob esfarrapado avental,
de cócoras no canto do casebre,
desndou a chorar...

Clevane Pessoa de Araújo lopes
Novembro de 2007






CRIANÇA SEM MUNDO
© Ferdinando

Dias de angústia urzes na escuridão,
palco onde as crianças
desnudadas caminham pelas ruas
sem casa, sem pais, e sem amor.
Paredes tingidas de rubro!...
Sangue inocente que corre na berma.

Filhos do nada e de ninguém
na incoerente prole incendiada...
como o ritmo do mar entre os rochedos
falando ás gaivotas do sol que não nasce...

E as estrelas que correm no asfalto frio
nas manhãs incompletas de sonhos,
terão amanhã a fogueira aliciante da verdade
nas primícias gritantes, de um sol ridente

Germany 26-11-07






NOBRE CRIANÇA POBRE


Acredita mais na vida
carregando sonhos na mão
nesta quase sobrevida
seu sonho é o seu pão

Sonhos de criança
estes não conhece
nasce sem esperança
e sem sonhar cresce

Vive de migalhas
e ainda consegue sorrir
desconhece as muralhas
que lhe nega um melhor existir

Sua felicidade tem o seu tamanho
e porque não sonha, nada cobra
sua vitória é garantir o pão ganho
se dá por feliz com o que lhe sobra

Pobre criança pobre
maltrapilho de pés descalço
ainda que nada mais lhe sobre
tem a força para viver num mundo falso

Célia Jardim




A solidão anda me escravizando
me assustando
muitas vezes me deixando a beira do abismo
do silencio ensurdecedor
que me arrasta como molambo
pelo vale de lágrimas cristalizadas.
Onde estás, mãe?
Que te abraço e não te alcanço?


Regina Mello nov.2007




FILHO DA TERRA BRUTA
Sueli do Espírito Santo


Caminha com os pés descalços
a sua caça pesando nos braços
todos os dias nessa mesma luta
para garantir a sua subsistência
já nem sabe o que é inocência
pois que é o filho da terra bruta

Sem um sorriso, sem brincadeira
precisa viver de qualquer maneira
sem sorte... trilha a rota do perigo
sozinho... sem um anjo protetor
nem sonha um futuro promissor
em um mundo que não há abrigo.

http://www.sue2001.recantodasletras.com.br







Valente caçador!!
rebeca pilenghy pereira

Vê-se na tela dura realidade
Tão bela exposta com suas cores
Nos faz sentir a triste realidade
De nosso Brasil e seus horrores...

Segue a estrada um nobre pequenino
Que desde cedo já está na luta
Tão responsável valente menino
Tem passos curtos de tanta labuta!

Os pés descalços machucados vão
Em caminho íngreme na terra vermelha
Dar alimento aos que em casa estão
Carregando os patos em mãos parelhas!

O caçador enfrenta o sol ardido
Pele morena e cabelo ao vento
Coração forte e destemido
E no olhar um triste lamento...

Que pensa ele desse seu viver?
Com outras bocas a alimentar!
Ou esse tempo que o faz sofrer,
A fonte de sonhos se fez calar?

Quantos meninos como este hão,
A percorrer destemida jornada...
Há injustiças em nossa nação
E os governantes não fazem nada!

O coração não segura a dor
Quando a imagem o grito transcende
Quem neste mundo fará com tanto amor
Este menino sorrir de contente?

Não só nos lábios mas no coração
Tão destemido, valente e maltratado,
Dar a família a sustentação,
E ter a mesa o alimento sagrado...

O dia-a-dia envolto de breus
Que lhe garantam tranqüila morada
Amar a vida e em pensamentos seus
A fonte dos sonhos ser renovada!!!




Pequenino Hunter!
isabel Sprenger Ribas.


O que se faz, menino,
para que a curvatura de seus lábios
tenha um formato de sorriso?
O que se faz para que o ermo em que habita,
nesta distância, nesta desdita,
retire do céu um pouco de cor
e compense o seu olhar?
Envelhecido olhar, com o amor
que os Homens de uma sociedade
não lhe podem dar...
O que se faz, quase criança,
para que as aves que leva na mão
tornem-se vivas... E com elas possa brincar,
correr... E possa viver,
pequenino Hunter?
Sem ter jamais que sofrer pela mãe inválida,
pelo irmão moribundo, pelo pai alcoolizado?
Por tudo que toca tão fundo as suas andanças
e faz destes seus passos, neste pesinho cansado,
a própria incerteza de um caminhar?
Que se faz?

Dedicado à pintura de "The Little Hunter" de Analua Zoé.



A Estrada da Fome.
(Sávio Assad)


Estrada longa que marca meus pés
Eu andarilho sem destino e família
Sofro com a fome roendo meu estomago
E a consumir minhas carnes.

Carrego no meu pensamento triste,
Minha experiência de vida amarga
Como fel a destruir minha infância,
Já tão perdida, como esta estrada.

Recolho migalhas ao longo, para matar
Minha fome e já caminho sem forças.
Nas mãos calejadas pelo curso
Ainda consigo a caça e a sobrevivência.

Estrada que não tem fim.
Encontre um desvio e me desvia o pensamento
Amargurado do novo amanhecer, veste meus pés
De relva e borda um sorriso em meus lábios divino.

Niterói - RJ - 26/11/2007

O presente



O presente


Crianças que cedo precisam
contribuir, prover o lar,
às vezes sem teto, pelas estadas,
às vezes quase nuas, coitadas,
expostas a calor e chuva,
brincam talvez de adultos...
Mas ser grande requer tanta luta,
e as armas das crianças são apenas
fantasias de ser, estar,conseguir...

Certo dia, vi um sorrido maroto,
orgulhoso e cansado também
de um menininho, ao entregar à mãe
duas galináceas
surrupiadas de algum quintal:
-"Olha mãe, para a canja do seu resguardo".
A mãe, barriga em plenilúneo, sob esfarrapado avental,
de cócoras no canto do casebre,
desandou a chorar...

Clevane Pessoa de Araújo lopes
Novembro de 2007

(Faz parte da ciranda cuja inspiração é um quadro de Analua Zoé :http://ecosdapoesia.net/letras/analua_zoe/bloco2.htm)

Luiz Lyrio comenta Mulheres de Sal, Água e Afins.



AS MULHERES DE CLEVANE



Como contista, Clevane Pessoa cria, encanta, excita e extasia, Ela nos proporciona uma ficção que nunca dantes navegamos e que é enriquecida por uma língua brasileira manejada de uma forma delicadamente dura que se mescla com uma feminilidade que parece ser privilégio exclusivo da autora.

Mulheres de sal, água e afins nos faz viajar do belo e sensual inspirado por uma nuca feminina (Ah, como nos excita uma nuca de mulher! Especialmente, quando ela se vira e seu rosto não nos decepciona...) ao trágico da violência contra a mulher, tão primitivamente comum e deprimente na sociedade contemporânea.

No seu livro, Clevane nos mostra a alma feminina sob vários ângulos, nos presenteando com uma sensação de extrema sensualidade contida até nos gomos de uma pokâ, essa fruta que, até há pouco tempo, eu só associava aos ataques cruéis em que espremia o sumo da sua casca nos olhos dos coleguinhas ou às guerras onde atirava as cascas em meus oponentes. Confesso que, em minhas brincadeiras de adolescente, nunca imaginei que uma pokâ... Bem, mas este é só um atributo com o qual a escritora encanta e seduz os leitores e leitoras de Mulheres de sal, água e afins. Romântica, possuidora da imaginação fértil que deve ter todo grande contista, Pessoa viaja maravilhosamente bem tanto na mais pura fantasia, quanto na realidade nua e crua dos contos que retratam realidades do nosso cotidiano.

Ler as mulheres de Clevane contracenando com seus coadjuvantes masculinos é mais que uma oportunidade de entender e respeitar com mais profundidade esse seres femininos considerados por muitos, (inclusive por este que vos fala) ininteligíveis (certamente, por serem muito mais inteligentes que nós, homens). Ler este livro é um privilégio, já que ele decodifica o mapa do caminho que leva ao paraíso, lugar ao qual os homens só chegam, quando decifram, alcançam e conseguem caminhar ao lado de uma dessa maravilhosas mulheres de sal, água e afins que habitam o planeta Terra e suas superiores imediações.



Luiz Lyrio – Belo Horizonte, 26 de maio de 2007.

Portas, Porteira, Portais, aldravas...Aos aldravistas de Mariana ,MG-Clevane



Porta Nova em Casa Velha

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


para JB Donadon-Leal,
que coloca gênero novo em poiesis antiga: portas, portais, porteiras...


na madrugada de 15/09/2007
(Do novo livro em construção, Portas, Portais e Porteiras)



Porta & Aldrava
(Para Gabriel Bicalho, diretor do jornal Aldrava, que sabe bater à porta da Poiesis)

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

A Aldrava crava sons cravos na espess ura da porta.
Sons agudos, sons c avos na tessit ura da aorta
-a veia maior, a que acompanha a sonância
da sístole
da diástole
e mesmo da extra-sístole
-aquela a mais.
Ansiedade
de
desconhecer quem virá
atender
e

de que forma será tratado, destratado, esperado
ou expulso - seja anjo ou demo
pura demonstração
de que, monstro ou puto de igreja
nem sempre, por detrás da porta
esterá aquela pessoa que se deseja.

A porta é uma aorta
que conduz o medo do degredo
e a esperança sem limitações.

A aldrava é uma vaga espécie de sino
com muitas formas diversas.

Há quem bata de qualquer maneira.
Há quem tenha aprendido a bater
e acalmar a ansiedade.

E alguns sabem quando ir embora,
sem demora,
por pura precaução.
E muitos, fogem em diparada
por medo de assombração.

A aldrava, impávida, estática,
somente entra em ação
se a toca qualquer mão...

Enfrenta o tempo impassível
e não decodificável.

E per/dura, dura guardiã,
século após século.
na madrugada de 15/09/2007
(Da série, Portas e Portais)



Portas e Portais
(Para Déia Leal- Andréia Donadon Leal-cujos olhos de pintar e as mãos de vi/ver, sabem das diferenças)

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Nunca se sabe o há que atrás de uma porta,
se um príncipe encantado, se a Moura Torta,
se a vida continua ou se a Morte já entrou.
A expectativa faz o coração galopar,
corcel de ventania, salamandra de fogo,
-ser bem ou mal recebidos, que importa
se todos os dias, a soleira não se lava,
mas se for lavada, a mesma entrada será?
Atrás da porta, uma mesa posta, uma mala feita,
o falso carinho, a afeição genuína...
Bater, campainha ou aldrava,
com os nós dos dedos,avisar
da chegada, no momento preciso.
Chegar e abrir, um ato de coragem
desapercebido e necessário,
no cotidiano dos vivos, sinais...

Aos que partem para a outra dimensão, portais...

em 15/09/2007, Madrugada (1:45h)

As Pedras e Eu



Clevane Pessoa de Araújo Lopes

As Pedras e eu

Toda a minha vida interessei-me por essas formações da natureza e o que inspiram, desde os seixos rolados às pedras ditas preciosas, essas mais pela beleza gestada dentro da terra, que pelo valor.Quando eu estava em Belém do Pará, ficava louca pelos geodis:parte-se uma pedra feiosa e lá dentro estão drusas, de cristais a a......As ágatas, que formam no cerne ondas de cores degradées, as fatiadas sendo usadas em artesanato como porta-copos ou sinos de vento...A dignidade da pedra total, ali fragmentada...Às vezes, eu ficava procurando,em alguma loja dessas que nessa capital do Norte brasileiro, porta de entrada para a Amazônia, num monte de metades, onde estaria o parte que faltava-como as pessoas sempre a procurar seu outro lado.Uma vez, encontrei:aproximei duas partes que se encaixaram perfeitamente, fato raro, como as ditas almas gêmeas que se buscam através dos tempos...

Estudei, no início da adolescência, em Itajubá, cidade do sul de Minas-que mais tarde seria chamada de Tecnópolis, por causa de seu grande avanço em tecnologia.Ita em língua indígena significa Pedra.Então,” pedra amarela”.Mas havendo uma versão outra, “água que escorre da pedra”, a garota(não eu) que desfilou em carro aberto no aniversário da cidade, estava envolta em muitas camadas de azul papel celofane para simbolizar as ditas águas.Evidentemente, ela sendo a pedra e os rapazes da cidade a soltar o fio do imaginário sobre esse corpo semi-revelado.Eram os anos sessenta e a cidade, pequena,então.

Em meu consultório, tenho várias pedras trazidas por pacientes que conhecem-me o gosto.Um garoto, o Breno,muito lindo e inteligente, trouxe-me uma pedra que mergulhou para achar ,no fundo da represa de Três Marias, onde os pais têm uma casa para as férias.A mãe deu-se ao trabalho de envernizá-la.Gosto de sopesá-la no côncavo da mão.Tem poderosa energia.Vê-se que foi muito rolada, como as pessoas a quem a vida nada poupa.Dizem os místicos que se você encontra uma pedra de rio naturalmente furada, ela é curativa.Em casa, deve ser colocada em copo virgem , com água mineral ou de fonte.Pelo menos que seja filtrada.Se deixada ao luar, mais potencializada para a cura, fica.Bebe-se a água para sarar as mazelas do corpo...

Marlene trouxe-me quartzos rosas, brutos, que achou perto de uma arvora, Eli, em Belém, que á uma nativa e curandeira nata, desenhista refinada, comprou numa exposição, pedras acinzentadas, achatadas e lisas, que teriam vindo de outro planeta.Poderosas...

Onde vou, cato uma .Desde que existiam,pois na selva de asfalto das capitais é impossível.

Quando me casei, meu marido, que é fechado para revelar sentimentos não hostis e que estava amando e curando antigas feridas emocionais, ouviu, perplexo, meu pedido de que trouxesse uma pedrinhas cortadas em cubos irregulares, para que eu nelas pintasse casinhas cheias de detalhe e vida:janelas com panelas a secar, jardineiras com jardins e pássaros, borboletas, pessoas à porta. Morando na capital de Minas, Belo Horizonte, eu reparara que nas ruas, havia muitas, usadas em calçamentos de calçadas para formar desenhos-as escuras se alternado às claras-soltas pelo tempo ou descaso do bicho homem...”-Mas como(eu, um engenheiro, deve ter pensado sem externar) vou CATAR pedras na rua?!

Mas à tarde, chegou sorridente, cheio de pedras no bolso.A maneira de declarar seu amor que tantas vezes tive de decodificar,tal a sua dificuldade de falar de amor.No início, mas acabou contaminado pelo meu mel da minha Poesia...

Quando estamos a nos queixar de vicissitudes,minha irmã Cleone fala:”Não é possível!Você não chegou pedras na cruz”Reza a tradição que o nazareno, já crucificado foi apedrejado, logo ele que exortou aos que queriam punir Maria Madalena lapidando-a por ser uma etária e ter consolado, com seu corpo,a tantos daqueles homens :”Aquele que nunca pecou, que atire a primeira pedra”...Há uma música popular brasileira que tem estes versos:

”Que atire a primeira pedra,ai, ai

Aquele que não sofreu por amor”(...)

Teme-se as pedradas, sempre.Diz-se que muitos apedrejam sem perceber que também têm telhado de vidro.Há pedras,que não o são:feitas de argila expandida, usadas em decoração...as criadas nos antigos filmes de catástrofes, para rolar de despenhadeiros ou de construções ruino, comoVictor Mature sendo Sansão e segurando o templo que se desmanchava...

O rei David que foi poeta e amante do belo-inclusive mulheres-conquistou seu lugar de rei , na tribo que teve o seu nome, cumprindo as profecias,usando uma funda para atacar ao gigante Golias com uma certeira pedra que o nocateou.Era a época em que na Terra jovem , ainda havia gigantes, para construir aquelas enormes edificações , decerto-e aparecendo na Mitologia de muitos povos...

O que nos incomoda é uma pedra-no-sapato.Uma pedrinha que seja,nos fere a pele sensível dos pés.E nos faz mancar.Para continuar,há que se ter iniciativa ou coragem:é preciso abaixar-se, tirar o calçante e se livrar até do mínimo grão de areia que nos incomoda...

A um casal que se cobrava falta de atenção mútua, entreguei,num saquinho de veludo, para ele, um quartzo rosa, para simbolizar a esposa.Para ela, uma ágata azul,para ela lembrar-se do esposo.Ambos profissionais ocupados, mesmo se amando, às vezes esqueciam de se falar, e trabalhavamem cidades diferentes durante a semana útil.Daí, passaram a, toda vez que tocavam a pedra-deviam carregá-la sempre, não bolso ou na bolsa, ligar para o outro,ou quando a saudade apertasse.Época de telefonia celular, entãopassaram a dar-se “toquinhos” ou mensagens, mesmo não podendo conversar:”eu estou aqui e pensoem ti”, era o recado para o coração.A irritabilidade desenvolvida num momento de carência e crise, foi-se...Muitas vezes,no consultório, uso desses métodos pouco ortodoxos...

Certa feita, encontrei em uma praia, uma pedra na areia escaldante de meu Estadonatal, em NATAL, a chamada Terra do Sol,que tinha o formato perfeito de um coração.Eu estava voltando às origens, já adulto jovem e levando meu filho mais velho Alessandro que foi carregado até pela idosa D.Donzinha, uma parteira que ajudou a natureza adolescente de minha mãe a dar-me à luz.Tinha o coração mais que partido, recentemente separada do poeta de olhos violeta que por sofrer seqüelas da Ditadura, não dava conta de ser feliz de verdade.Achar a pedra foi para mim uma sinalização do Alto:um coração refeito, rígido como uma pedra, proibido de novamente fragmentar-se.E assim foi...

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